O estudo mostrou que o índice afeta jovens de 11 a 19 anos que nasceram mulheres, mas se identificam como homens
Redação Publicado em 13/09/2018, às 18h13
Vários estudos já mostraram que adolescentes transgênero, ou seja, que têm uma identidade de gênero diferente daquela atribuída no nascimento, são uma população com risco aumentado de suicídio. A obrigação de assumir uma mentira, ou então o preconceito enfrentado ao assumir a verdade podem ser fardos pesados demais para se carregar.
Segundo um estudo feito na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, metade dos jovens de 11 a 19 anos que nasceram mulheres, mas se identificam como homens, já tentou acabar com a própria vida ao menos uma vez – um número assustador. O segundo grupo de maior risco identificado pelos autores foi o de adolescentes não binários, ou seja, que não se identificam completamente com nem o gênero feminino, nem com o masculino.
Entre adolescentes que nasceram homens, mas se identificam como mulheres, 30% haviam tentado suicídio, de acordo com o levantamento. E entre aqueles que apenas relataram questionar sua identidade de gênero, 28% já tinham tentado se matar.
Todos esse números, publicados no periódico Pediatrics, mostram o quanto essa população precisa de atenção e acolhimento. Estudos anteriores, com adultos, já haviam trazido resultados parecidos.
Os pesquisadores analisaram um banco de dados com 120.600 adolescentes, sendo que a maioria era identificada como cisgênero, ou seja, pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer. Considerando o total de participantes, 14% tinham relatado ao menos uma tentativa de suicídio.
Mais pesquisas são necessárias para entender por que os trans masculinos seriam a população de maior risco. Mas esse dado se alinha com o fato de que as mulheres, de um modo geral, são mais propensas a tentar suicídio do que os homens, embora eles tenham uma tendência maior a escolher meios mais letais e, portanto, tenham mais destaque nas estatísticas. De qualquer forma, identidade de gênero não é algo que apareça nos atestados de óbito, nem algo que as famílias gostam de relatar, por isso não é tão fácil identificar a influência de conflitos dessa ordem nos números de suicídio.
A equipe, liderada pelo pesquisador Russel Toomey, tentou buscar dados para identificar fatores de proteção contra o suicídio, e as conclusões são pouco claras. Apesar de pertencer a minorias étnicas ser um fator de risco conhecido para a população jovem como um todo, eles não encontraram essa relação para os indivíduos transgênero. Talvez o fato de pertencer a outro tipo de minoria ajude o jovem, de alguma forma, a criar um escudo de proteção contra um segundo motivo para sofrer preconceito.
Ter pais com níveis mais altos de educação, e ter crescido em ambientes urbanos, em vez de rurais, também são considerados fatores de proteção para a população geral, mas não para os adolescentes trans. Isso significa que jovens que não se identificam com o sexo atribuído no nascimento têm questões próprias que precisam ser discutidas, estudadas e cuidadas. É importante que os pais vençam os próprios preconceitos e deem atenção a isso.