Pesquisadores dizem, porém, que esse movimento pode ser reversível; entenda o estudo
Redação Publicado em 23/06/2021, às 16h30
Dizem que o cabelo de Maria Antonieta (rainha da França no século XVIII) ficou grisalho da noite para o dia pouco antes da sua decapitação em 1791. Apesar da lenda ser imprecisa, um grupo de pesquisadores da Universidade de Columbia (Estados Unidos) sugere uma ligação entre o estresse psicológico e o nascimento de cabelos brancos nas pessoas.
Embora possa parecer intuitivo que o estresse seja capaz de acelerar esse processo, os autores ficaram surpresos ao descobrirem que esse movimento é reversível, ou seja, a cor do cabelo pode ser restaurada quando esse estresse é eliminado.
Segundo os pesquisadores, o estudo – publicado recentemente na eLife – tem um significado que vai além de confirmar as especulações ao redor dos efeitos do estresse na coloração dos fios de cabelo.
Para eles, os achados possibilitam entender os mecanismos que permitem que cabelos grisalhos “antigos” retornem aos seus estados pigmentados “jovens”, produzindo novas pistas sobre a flexibilidade do envelhecimento humano e como ele é influenciado pelo estresse.
Os dados se somam, portanto, a um conjunto de evidências que demonstram que o “envelhecer” não é um processo biológico linear e fixo, mas pode, pelo menos em parte, ser interrompido ou, até mesmo, temporariamente revertido.
Os pesquisadores explicam que, assim como os troncos de árvores guardam informações sobre décadas passadas na vida daquela planta, os cabelos também contêm dados sobre a história biológica de cada um.
Assim, quando eles ainda estão sob a pele como folículos, estão sujeitos à influência de hormônios do estresse e outras coisas que estão acontecendo com o corpo e a mente. Uma vez que os cabelos crescem do couro cabeludo, eles endurecem e cristalizam permanentemente essas exposições em uma forma estável.
Para correlacionar de maneira precisa os tempos de estresse com a pigmentação capilar, foi desenvolvido um método que captura imagens altamente detalhadas de pequenas partes dos cabelos humanos com objetivo de quantificar a extensão da perda da coloração em cada uma delas. Cada fatia - cerca de 1/20 de um milímetro de largura – representa cerca de uma hora de crescimento capilar.
De acordo com os pesquisadores, a mudança de cor não é visível a olho nu, a menos que haja uma grande transição. Por isso, é necessário um scanner de alta resolução para observar as pequenas alterações de coloração.
A equipe analisou os cabelos de 14 voluntários e os resultados foram comparados com o diário de estresse que cada um completou, no qual precisavam avaliar o nível de estresse toda semana.
Para a surpresa dos autores, foi observado que alguns cabelos grisalhos naturalmente recuperaram a sua cor original. Quando os cabelos foram alinhados com os diários de estresse, associações marcantes foram reveladas e, em alguns casos, houve até uma reversão do cinza com a diminuição do estresse.
Por exemplo, os pesquisadores contaram que um dos voluntários saiu de férias e cinco cabelos dele voltaram à pigmentação “jovem” durante esse período.
Confira:
Para entender melhor como o estresse causa o fenômeno do grisalho, os pesquisadores também mediram os níveis de milhares de proteínas nos cabelos e como eles mudaram ao longo do comprimento de cada fio.
Os dados revelaram que houve alteração em 300 proteínas quando a cor do cabelo mudou e a equipe envolvida desenvolveu um modelo matemático que sugere que essas mudanças foram induzidas pelo estresse nas mitocôndrias (organelas celulares responsáveis pela respiração das células).
Muitos dizem que as mitocôndrias são as potências da célula, mas esse não é o seu único papel. Segundo os pesquisadores, elas são, na verdade, como pequenas antenas que respondem a uma série de sinais diferentes, incluindo o estresse psicológico.
Os pesquisadores enfatizam que reduzir o estresse é uma boa meta para melhorar a qualidade de vida, mas fazer isso não necessariamente mudará a pigmentação do cabelo. De acordo com eles, o cabelo precisa atingir um limite antes de ficar grisalho e, sendo assim, na meia-idade, quando o cabelo está perto dessa fronteira por conta da idade biológica e outros fatores, o estresse vai “empurrá-lo” para além e a transição para o grisalho ocorrerá.
Portanto, os pesquisadores não acreditam que reduzir o estresse de uma pessoa com 70 anos que já está grisalha irá escurecer seus cabelos novamente; ou que aumentar o estresse em uma criança de 10 anos será o suficiente para ultrapassar esse limite e fazer com que ela ganhe cabelos brancos.
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