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O que faz jovem reagir ao ter sua masculinidade "ameaçada"?

Estereótipos de gênero alimentam agressividade dos jovens - iStock
Estereótipos de gênero alimentam agressividade dos jovens - iStock

Há muito tempo se sabe que certos homens se tornam agressivos quando percebem que sua masculinidade está sendo ameaçada. Quando e por que esse comportamento emerge?

Um estudo mostra que adolescentes do sexo masculino já podem responder de forma agressiva quando acreditam que sua masculinidade está sob ameaça – especialmente meninos que crescem em ambientes com normas de gênero rígidas e estereotipadas.

Ameaça à masculinidade

Os resultados, relatados na revista Developmental Science, destacam os efeitos da pressão social que muitos meninos enfrentam para serem estereotipicamente masculinos.

"Sabemos que nem todos os homens respondem agressivamente às ameaças à masculinidade – em trabalhos anteriores, descobrimos que são principalmente os homens cuja masculinidade estereotipada é pressionada socialmente que são os mais agressivos sob essas ameaças", diz Adam Stanaland, pesquisador pós-doutorado da Universidade de Nova York e autor principal do artigo.

"Agora temos evidências de que certos adolescentes do sexo masculino respondem de forma semelhante, apontando para as bases desses processos potencialmente prejudiciais."

As ameaças à masculinidade estão associadas a uma ampla variedade de comportamentos negativos e antissociais, como sexismo, homofobia, intolerância política e até mesmo antiambientalismo", acrescenta Stanaland.

"Nossos achados exigem um desafio ativo às normas restritivas e à pressão social que os meninos enfrentam para serem estereotipicamente masculinos, especialmente durante a puberdade e vindas de seus pais e colegas."

Expectativas sobre o que é ser homem

Estudos há muito tempo mostram que ameaças percebidas à "tipicidade de gênero" dos homens – o alinhamento da aparência e dos comportamentos com as expectativas sociais para mulheres e homens – podem levá-los a engajar-se em comportamentos prejudiciais destinados a reafirmar sua tipicidade. Os pesquisadores do novo estudo buscaram entender o desenvolvimento desse fenômeno e os ambientes sociais nos quais ele ocorre.

Doutorando na Universidade Duke, Stanaland liderou este experimento, que incluiu mais de 200 adolescentes do sexo masculino nos EUA e um de seus pais.

Motivação e estereótipos

Os meninos primeiro relataram em que medida sua motivação para serem masculinos era internamente motivada ou, em vez disso, impulsionada pelo desejo de obter a aprovação dos outros ou evitar sua desaprovação.

Em seguida, os meninos jogaram um jogo no qual responderam a cinco perguntas estereotipicamente masculinas (por exemplo: “qual dessas ferramentas é uma chave de fenda Phillips?") e cinco perguntas estereotipicamente femininas (por exemplo: “qual dessas flores é uma begônia?").

Aleatoriamente, foi dito a eles que sua pontuação era atípica para seu gênero (ou seja, mais parecida com a das meninas e uma "ameaça" à sua masculinidade) ou típica para seu gênero (ou seja, mais parecida com a dos outros meninos e não ameaçadora).

Para medir a agressividade, os autores do estudo pediram aos participantes que realizassem uma tarefa cognitiva: completar uma série de palavras que lembravam de algo violento, como “arm”, para fazer a pessoa pensar em “arma”.

O estudo também levou em conta variáveis demográficas e outras, como o estágio do desenvolvimento puberal em que se encontravam.  

Finalmente, os pesquisadores consideraram fontes ambientais que poderiam pressionar os meninos a serem motivados a serem típicos de gênero, incluindo a pressão que disseram sentir de colegas, pais e de si mesmos. Eles também perguntaram aos pais participantes sobre suas crenças relacionadas ao gênero.

Quando a pressão vem dos pais

Os resultados mostraram o seguinte:

- Similarmente aos homens jovens adultos, adolescentes do sexo masculino com puberdade média ou tardia (mas não antes de entrar na puberdade) responderam com agressividade a ameaças percebidas à sua tipicidade de gênero.

- A agressividade foi maior entre os meninos cuja motivação para ter traços de masculinidade era devido à pressão dos outros (ou seja, impulsionada pelas expectativas sociais) em vez de uma motivação interna.

- Os meninos mais propensos a revelar essa "motivação pressionada" eram aqueles cujos pais endossavam crenças estereotipadas sobre o status e poder dos homens (por exemplo, que os homens deveriam ter mais poder do que pessoas de outros gêneros).

Agressividade e segurança pública

"A agressão dos homens apresenta desafios para sociedades em todo o mundo, variando desde a segurança pública até relacionamentos pessoais íntimos", observa Andrei Cimpian, professor do Departamento de Psicologia da NYU e autor sênior do artigo.

"Ao identificar quando e por que certos meninos começam a mostrar respostas agressivas às ameaças à masculinidade, esta pesquisa é um primeiro passo para prevenir o desenvolvimento de masculinidades 'frágeis' – masculinidades que precisam ser constantemente provadas e reafirmadas – e suas muitas consequências negativas entre homens adultos."

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin