Redação Publicado em 01/10/2021, às 15h30
Para onde a sua mente vagueia quando você está no tédio?Um estudo da Universidade do Arizona (Estados Unidos) – publicado na Scientific Reports – pode oferecer algumas pistas, além de as descobertas serem úteis para o diagnóstico e para o tratamento de problemas de saúde mental, como a depressão.
A pesquisa contou com 78 participantes que foram treinados para expressar seus pensamentos em voz alta por 10 minutos enquanto estavam sentados sozinhos em uma sala sem acesso a dispositivos eletrônicos. Para analisar o conteúdo, a equipe utilizou equipamentos de áudio para registrar os pensamentos e transcreveram as gravações logo depois.
Segundo os pesquisadores, o objetivo era imitar as pequenas pausas que fazemos ao longo do dia, como quando esperamos na fila de um café, tomamos banho e deitamos na cama à noite, por exemplo. Todas essas situações são momentos em que as demandas externas são mínimas e os pensamentos internos tendem a se infiltrar.
A equipe responsável pelo estudo procurou medir padrões de pensamento e estava especialmente interessada em capturar o chamado pensamento ruminativo, ou seja, quando pensamos continuamente nos mesmos pensamentos negativos, que é um sintoma comum de depressão.
De acordo com os pesquisadores, enquanto a maioria dos participantes passou os 10 minutos pensando no presente ou no futuro de forma emocionalmente neutra, aqueles que tiveram uma nota alta em um questionário de ruminação experimentaram pensamentos mais focados no passado e negativos, além de serem mais propensos a pensar em si mesmos.
Confira:
Certos pensamentos foram seguidos ao longo do tempo, medindo a sua duração e quão focados ou amplos em algum assunto eles eram. Os resultados mostraram que os indivíduos ruminativos tinham pensamentos negativos que duravam mais do que os positivos e se tornavam progressivamente mais restritos a um tópico com o tempo.
Os pesquisadores explicam que foi possível observar como algumas pessoas ficaram presas em ciclos de pensamentos. Apesar do grupo do estudo ter sido formado aleatoriamente sem qualquer informação sobre algum diagnóstico de saúde mental, em apenas 10 minutos de inatividade foi possível perceber processos de pensamento capazes de falar sobre muitas condições mentais diferentes.
Por outro lado, muitos participantes acharam o período ocioso produtivo e inspirador, utilizando esse tempo para pensar em tópicos positivos ou metas a serem alcançadas. Inclusive, para muitos, o exercício oferecia uma pausa refrescante do mundo tão ocupado ao seu redor.
A pesquisa foi finalizada antes do início da pandemia de Covid-19, mas os resultados parecem mais relevantes do que nunca, já que muitas pessoas passaram por momentos solitários e ociosos ao longo de todo o isolamento social em comparação a qualquer outra fase de suas vidas.
Os autores destacam ainda que fazer pausas mentais parece estar cada vez mais desvalorizado em uma sociedade ocupada e distraída, que reforça um estilo de vida em que precisamos estar sempre em movimento.
Embora a pesquisa não tenha analisado esse tópico a fundo, os pesquisadores sugerem que treinar pessoas desde a infância para se sentirem confortáveis durante o tempo ocioso pode ajudar a manter o bem-estar mental e beneficiar a criatividade ao longo da vida.
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