O tema é delicado, mas precisa ser abordado, afinal essa decisão é muito importante
Tatiana Pronin Publicado em 27/09/2023, às 09h00
O FOMO (ou “fear of missing out”, que significa, em tradução livre, “medo de ficar de fora”) é um fenômeno que aprendemos a relacionar ao uso do smartphone. Afinal, a postagem constante de conteúdos cria uma necessidade de verificação e a consequência é uma ansiedade enorme e o receio de estar perdendo algo importante.
Mas um estudo da Universidade Rutgers, nos EUA, sugere que essa sensação de não querer ficar de fora também pode colaborar para uma das decisões mais sérias que as pessoas podem tomar na vida: a de ter filhos.
O tema é delicadíssimo, mas precisa ser abordado. Segundo os pesquisadores, cerca de 1 em cada 14 pais norte-americanos, o que representa 7% deles, afirma que não teria tomado a decisão de ter filhos se pudesse voltar ao passado. Na Europa, as taxas de arrependimento parental são ainda maiores – cerca de 13,6% dos pais dizem o mesmo na Polônia, e 8%, na Alemanha.
A pesquisa, publicada no Journal of Social and Personal Relationships, contou com narrativas de pais arrependidos que manifestaram suas opiniões em uma comunidade do Reddit que conta com 1,5 milhão de usuários sem filhos (mas que permite a postagem de pais que queiram expressar seu arrependimento). Foram catalogados 85 testemunhos desse tipo entre 2011 e 2021.
As mensagens foram condificadas em relação aos argumentos por trás do arrependimento, e foram identificados três discursos principais: a noção de que ser pai ou mãe é um paraíso; a parentalidade como inferno; e a parentalidade como a única escolha possível.
Ao examinar como esses discursos interagiam para orientar a decisão de ter filhos, os pesquisadores concluíram que uma das motivações desses pais arrependidos tinha tudo a ver com o FOMO. Ou seja: eles decidiram ter filhos pelo receio de perder uma experiência que os outros julgam ser importante.
O arrependimento parental é algo que ninguém espera de um pai ou uma mãe. Normas sociais sugerem que é preciso amar os filhos incondicionalmente, desde a concepção até a eternidade, e isso é ainda mais esperado entre as mulheres. Mas será que isso acontece sempre, na prática?
Trabalhos desse tipo, que exploram as motivações das pessoas para ter filhos, são importantes, ainda mais para quem trabalha com planejamento familiar. Mas, acima de tudo, saber que ter filhos nem sempre é um paraíso, e que, sim, alguns pais podem até sentir que o sacrifício não valeu a pena é fundamental.
"Devido às normas sociais, qualquer pessoa que não siga as visões dominantes sobre a parentalidade é marginalizada ou estigmatizada", comentou uma das autoras do estudo, Kristina Sharp.
"Às vezes, as normas sociais são boas. Sabemos que é errado roubar. Mas às vezes, as normas sociais têm consequências não intencionais e punem as pessoas por suas escolhas - incluindo as pessoas que desejam viver sem filhos”, acrescentou. E talvez não seja exagero dizer que os filhos dessas pessoas também são punidos por essas decisões.
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