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Obesidade tem início no primeiro ano de vida, diz estudo

Alimentos como biscoitos, refrigerantes e doces não devem ser oferecidos às crianças menores de dois anos - iStock
Alimentos como biscoitos, refrigerantes e doces não devem ser oferecidos às crianças menores de dois anos - iStock

Redação Publicado em 02/06/2021, às 14h07

Pesquisadores da Universidade de Columbia (Estados Unidos) e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA - Brasil) descobriram que quando os profissionais de saúde são capacitados para orientar sobre práticas de alimentação saudável infantil às gestantes, as crianças consomem menos gorduras e carboidratos aos três anos de idade e têm menores medidas de gordura corporal aos seis.

O estudo, publicado no Journal of Human Nutrition and Dietetics, é o primeiro a mostrar que as raízes da obesidade começam ainda no primeiro ano de vida de uma criança, logo após as mães pararem de amamentar. 

De acordo com os autores, o primeiro ano após o nascimento é uma janela crítica e importante para o estabelecimento de hábitos que influenciarão os padrões de saúde ao longo de toda a vida. Além disso, os achados mostram que é possível mudar o comportamento de uma mãe e evitar a obesidade ajudando-as a alimentar bem seus filhos. 

O mais surpreendente para a equipe foi observar que as mães participantes ofereceram alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura para as crianças com apenas seis meses de idade. Esse comportamento, para os pesquisadores, pode ser explicado pelas influências culturais e pela forte comercialização desse tipo de alimento para bebês em todo o mundo. 

Visitas e orientações

A pesquisa foi realizada na cidade de Porto Alegre, no Brasil, em 31 centros que prestam serviços de pré-natal, infantil e outros atendimentos de atenção básica a famílias de baixa renda. 

A intervenção foi baseada em nascimentos de maio de 2008 a fevereiro de 2009 e consistiu em um programa de treinamento centrado no “'Dez Passos para Alimentação Saudável para Crianças Brasileiras de Nascimento a Dois Anos de Idade” (diretriz alimentar brasileira) para ampliar o conhecimento dos profissionais de saúde da atenção básica.

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Todas as famílias foram informadas sobre os alimentos complementares que não deveriam ser oferecidos às crianças menores de dois anos – como biscoitos, lanches, refrigerantes e doces – através de cartazes na sala de espera. 

Os profissionais treinados mediram o crescimento das crianças e outros pontos aos seis meses, doze meses, três anos e seis anos por meio de visitas domiciliares. Os detalhes sobre os tipos de alimentos, quantidades e métodos de preparo também foram registrados. 

Confira:

Menor ingestão de calorias

Os achados revelaram que a ingestão de calorias em todas as idades foi menor no grupo de intervenção em comparação ao grupo controle, com uma diferença estatisticamente significativa aos três anos de idade. 

Além disso, as crianças do grupo de intervenção nessa faixa etária apresentaram menor consumo de carboidratos e gordura total do que o grupo controle e, aos seis anos de idade, acumularam menos gordura corporal.

A ingestão de calorias em ambos os grupos estava acima da exigência em todas as idades, entretanto o excesso de consumo foi menor no grupo de intervenção. Segundo os pesquisadores, a diferença foi pequena no início, mas, em longo prazo, a redução de ingestão de 92 calorias por dia totaliza 33.000 por ano. Uma mudança dessa magnitude pode explicar alterações no ganho de peso durante a infância. 

Os resultados foram particularmente marcantes em relação às calorias de biscoitos e chocolate em pó, ambos fontes importantes de gorduras e carboidratos. Durante a formação dos profissionais de saúde, açúcar, doces, refrigerantes, salgadinhos, biscoitos e alimentos ultraprocessados foram enfatizados como alimentos para as mães evitarem oferecer a seus bebês até os dois anos de idade. 

7% menos sobrepeso

O grupo de intervenção aos seis anos apresentou menos gordura corporal em várias medidas, mas essa diferença não refletiu no Índice de Massa Corporal (IMC). No entanto, de acordo com os pesquisadores, a prevalência de sobrepeso no grupo de intervenção foi 7% menor quando comparada ao grupo controle, sugerindo um valioso impacto na saúde pública: estima-se que a redução de 1% da prevalência da obesidade entre crianças de até seis anos economize 1,7 bilhão de dólares em custos médicos. 

Os pesquisadores enfatizaram a importância de uma alimentação saudável nos primeiros meses de vida dando o exemplo de pessoas notáveis como Alice Waters, Jamie Oliver e Michelle Obama, que dedicaram esforços para melhorar a merenda das instituições de ensino e os hábitos alimentares das crianças em idade escolar, ajudando na luta contra a obesidade. 

Para os autores, todos esses esforços devem ser aplaudidos e encorajados, já que o estudo sugere que as práticas alimentares no início da vida já podem ter um impacto significativo no peso e na saúde das crianças em idade pré-escolar.