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Oncofertilidade: entenda o método de preservação da fertilidade

Preservação da fertilidade é algo que precisa ser discutido antes de se iniciar o tratamento do câncer - iStock
Preservação da fertilidade é algo que precisa ser discutido antes de se iniciar o tratamento do câncer - iStock

É bastante assustador quando nos deparamos com uma doença como o câncer. Ainda mais quando atinge crianças ou jovens, que tem muitos anos de vida pela frente.

No entanto, a ciência evoluiu e vem evoluindo cada vez mais tanto na prevenção quanto no diagnóstico precoce de diversos tipos de câncer. Esses enormes avanços tornaram possível a cura completa da maioria dos tipos de câncer quando descobertos em estágios precoces.

Segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), até 80% dos cânceres na população infanto-juvenil podem ser curados.

Tratamentos e fertilidade

O grande ponto em questão é que o tratamento para os tumores nessas pessoas jovens, envolvendo quimio ou radioterapia, é extremamente nocivo para as células reprodutivas. Essas células irão gerar nossos gametas, os óvulos e espermatozoides e são células afetadas de forma devastadora pelos tratamentos oncológicos.

Meninos e adolescentes podem ter sua produção de espermatozoides zerada, tornando-se o que chamamos de “azoospérmicos”.

As meninas, adolescentes e adultas jovens não escapam do mesmo problema: terão seus ovários afetados e poderão entrar na menopausa precocemente, sendo impossível que consigam engravidar com o próprio material genético no futuro.

Opções para meninos e meninas

Neste contexto surge a preservação da fertilidade. São tratamentos muito importantes que possibilitam aos sobreviventes dessa doença terrível a chance de ter filhos no futuro.

Os meninos que já entraram na adolescência podem congelar seus espermatozoides. É um processo bem mais simples e bem menos invasivo do que o das mulheres. A coleta dos espermatozoides normalmente acontece por masturbação e deve ser realizada antes dos procedimentos de quimio ou radioterapia.

Já para as meninas existem mais opções. Se ela ainda não entrou na adolescência e não produz óvulos maduros ainda, podem ser retiradas “fatias” dos ovários. Essas amostras de tecido ovariano são congeladas e nelas estão os óvulos imaturos, que poderão ser utilizados no futuro.

Outra possibilidade é estimular a ovulação e coletar os óvulos já maduros dessas mulheres. É um processo semelhante ao que é realizado quando fazemos a fertilização in vitro. Dura perto de duas semanas para termos os óvulos prontos para o congelamento.

Seja qual for o material obtido, espermatozoides, óvulos ou tecido ovariano, ele fica congelado (criopreservado) em tanques de nitrogênio líquido.

Essa preservação pode durar por décadas, e se, no futuro, a pessoa não puder engravidar ou ter filhos naturalmente, terá a oportunidade de utilizar o material criopreservado.

Tratamentos futuros

Óvulos e espermatozoides são utilizados para fertilização in vitro e formação de embriões, que posteriormente são transferidos para o útero, possibilitando a gravidez.

Já o tecido ovariano pode ser reimplantado sobre os próprios ovários de onde foi extraído, ou mesmo implantado em outros tecidos, como na gordura da pele do braço.

Esse tecido ovariano passa a ser estimulado pelos hormônios do organismo da mulher e passa a produzir óvulos maduros, que darão origem a uma gravidez.

Logicamente, se o tecido ovariano foi implantado no braço, esses óvulos precisam ser retirados e fertilizados in vitro, para que os embriões obtidos sejam transferidos ao útero.

Bem, compete aos médicos fornecer essas informações aos pais e aos pacientes que estão em risco de perder sua fertilidade em virtude do tratamento para o câncer.

Embora seja um momento muito difícil, com outras questões prioritárias, preservar a fertilidade é algo que precisa ser pensado e discutido.

Dr. Fernando Prado

Dr. Fernando Prado

Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo