Tratamento do câncer na juventude pode afetar as chances de ter filhos mais tarde
Dr. Fernando Prado Publicado em 29/12/2022, às 14h00
É bastante assustador quando nos deparamos com uma doença como o câncer. Ainda mais quando atinge crianças ou jovens, que tem muitos anos de vida pela frente.
No entanto, a ciência evoluiu e vem evoluindo cada vez mais tanto na prevenção quanto no diagnóstico precoce de diversos tipos de câncer. Esses enormes avanços tornaram possível a cura completa da maioria dos tipos de câncer quando descobertos em estágios precoces.
Segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), até 80% dos cânceres na população infanto-juvenil podem ser curados.
O grande ponto em questão é que o tratamento para os tumores nessas pessoas jovens, envolvendo quimio ou radioterapia, é extremamente nocivo para as células reprodutivas. Essas células irão gerar nossos gametas, os óvulos e espermatozoides e são células afetadas de forma devastadora pelos tratamentos oncológicos.
Meninos e adolescentes podem ter sua produção de espermatozoides zerada, tornando-se o que chamamos de “azoospérmicos”.
As meninas, adolescentes e adultas jovens não escapam do mesmo problema: terão seus ovários afetados e poderão entrar na menopausa precocemente, sendo impossível que consigam engravidar com o próprio material genético no futuro.
Neste contexto surge a preservação da fertilidade. São tratamentos muito importantes que possibilitam aos sobreviventes dessa doença terrível a chance de ter filhos no futuro.
Os meninos que já entraram na adolescência podem congelar seus espermatozoides. É um processo bem mais simples e bem menos invasivo do que o das mulheres. A coleta dos espermatozoides normalmente acontece por masturbação e deve ser realizada antes dos procedimentos de quimio ou radioterapia.
Já para as meninas existem mais opções. Se ela ainda não entrou na adolescência e não produz óvulos maduros ainda, podem ser retiradas “fatias” dos ovários. Essas amostras de tecido ovariano são congeladas e nelas estão os óvulos imaturos, que poderão ser utilizados no futuro.
Outra possibilidade é estimular a ovulação e coletar os óvulos já maduros dessas mulheres. É um processo semelhante ao que é realizado quando fazemos a fertilização in vitro. Dura perto de duas semanas para termos os óvulos prontos para o congelamento.
Seja qual for o material obtido, espermatozoides, óvulos ou tecido ovariano, ele fica congelado (criopreservado) em tanques de nitrogênio líquido.
Essa preservação pode durar por décadas, e se, no futuro, a pessoa não puder engravidar ou ter filhos naturalmente, terá a oportunidade de utilizar o material criopreservado.
Óvulos e espermatozoides são utilizados para fertilização in vitro e formação de embriões, que posteriormente são transferidos para o útero, possibilitando a gravidez.
Já o tecido ovariano pode ser reimplantado sobre os próprios ovários de onde foi extraído, ou mesmo implantado em outros tecidos, como na gordura da pele do braço.
Esse tecido ovariano passa a ser estimulado pelos hormônios do organismo da mulher e passa a produzir óvulos maduros, que darão origem a uma gravidez.
Logicamente, se o tecido ovariano foi implantado no braço, esses óvulos precisam ser retirados e fertilizados in vitro, para que os embriões obtidos sejam transferidos ao útero.
Bem, compete aos médicos fornecer essas informações aos pais e aos pacientes que estão em risco de perder sua fertilidade em virtude do tratamento para o câncer.
Embora seja um momento muito difícil, com outras questões prioritárias, preservar a fertilidade é algo que precisa ser pensado e discutido.
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