Redação Publicado em 18/03/2021, às 19h20
O depoimento do pai de uma garota transgênero, nos EUA, atraiu milhões de visualizações nas redes sociais, esta semana. Um projeto de lei no estado do Missouri tenta fazer com que times de escolas sejam definidos com base no sexo biológico, definido no nascimento. Se aprovada, a Resolução 53 proibirá que adolescentes que se identificam como garotas participem de equipes femininas nas escolas.
“Eu peço a vocês, por favor, não tirem isso da minha filha ou de tantos outros [jovens] como ela, lá fora”, declarou Brandon Boulware. A filha dele participa de um time de vôlei feminino, além de integrar um grupo de dança e jogar tênis com outras garotas, e ela terá de abandonar todas essas atividades caso a lei seja aprovada pela Câmara dos Deputados.
O advogado comoveu o público ao contar como foi o processo de aceitação da identidade de gênero da filha. Ele disse que, por anos, ele e sua mulher rejeitaram o conselho de professores e terapeutas e obrigaram a criança a usar roupas de menino, cortar o cabelo curto e jogar com outros meninos. Essa é a realidade, por sinal, de muitos jovens trans, que se identificam com gênero diferente do sexo designado no nascimento, ou seja, o sexo biológico.
"Eu fazia isso porque não queria que zombassem dos meus filhos", explicou. "E, verdade seja dita, eu fiz isso para me proteger também. Eu queria evitar aquelas perguntas inevitáveis, sobre o porquê de meu filho não agir como um garoto", admitiu o advogado, que se apresentou como cristão e filho de um pastor metodista.
Segundo Boulware, ele tinha uma criança que nunca sorria, não tinha amigos, nem confiança. Ele percebeu que estava agindo errado quando, um dia, a filha colocou o vestido da irmã e pediu para ir brincar com os vizinhos do outro lado da rua. Ele pediu que ela entrasse, então ela perguntou se ele deixaria ela ir caso colocasse uma roupa de menino. Naquele momento, o pai percebeu que a menina estava aprendendo que, para ser julgada como boa, ou obediente, teria que fingir ser o que ela não era.
Depois que o casal deixou a filha se vestir como queria e deixar o cabelo crescer, a transformação foi imediata: “Eu agora tenho uma filha confiante, sorridente e feliz. Ela joga em times de vôlei femininos. Ela tem amigos. Ela é uma criança”. É por isso que Boulware foi pedir, como pai, que os deputados não aprovem a lei e impeçam garotos e garotas na mesma condição de praticar esportes e fazer amigos.
“Permitam que eles tenham a infância deles, que sejam quem são”, insistiu o advogado. “Como pais, a única coisa que não podemos fazer é silenciar o espírito de nossos filhos”. A filmagem do depoimento foi publicada nas redes sociais da ACLU, uma organização que defende direitos humanos.
Até esta quinta-feira (18), o vídeo teve mais de 7 milhões de visualizações somente no Twitter. Muitos pais de jovens transgênero se manifestaram a favor de Boulware e se disseram comovidos com o vídeo. "A filha dele, na verdade os quatro filhos, têm muita sorte de ter esse homem como pai", dizia um dos comentários.
Mas também havia manifestações contrárias. "É simplesmente injusto que mulheres biológicas tenham que competir contra homens biológicos em competições sérias", reclamava outra pessoa.
O projeto de lei é do deputado republicano Chuck Basye, que, assim como outros críticos da inclusão de atletas transgênero, argumenta que o objetivo é evitar vantagens físicas injustas e proteger a integridade de meninas e garotas que praticam esportes.
Propostas semelhantes já foram apresentadas em outras partes do país, e, no início do mês, o governador do Mississippi assinou uma lei para proibir que atletas transgênero participem de times femininos.