Sem escolas, muitas mulheres precisaram abandonar seus empregos para cuidar dos filhos
Redação Publicado em 12/03/2021, às 19h31
De acordo com uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, décadas de conquistas femininas no mercado de trabalho foram fortemente impactadas pela pandemia de Covid-19.
O estudo, publicado na revista Gender & Society, mostrou que a desigualdade de gênero entre pais e mães na força de trabalho tem crescido de forma significativa desde o início do isolamento social em estados onde as escolas foram fechadas e passaram a oferecer o ensino remoto.
Para os pesquisadores, se as circunstâncias permanecerem, pode ser um duro e longo golpe sobre todos os avanços conquistados até aqui pelas mulheres em busca de mais espaço no mercado de trabalho.
No início do ano letivo de 2019-2020, a taxa de participação das mães americanas no mercado de trabalho era, em média, 18 pontos percentuais menor que a dos pais. Em setembro do ano passado, essa diferença cresceu para mais de 23 pontos nos estados onde as escolas oferenciam, principalmente, o ensino à distância.
Em comparação, nos lugares onde a maioria das instituições permaneceram presenciais, a desigualdade de gênero na participação da força de trabalho dos pais cresceu menos de um ponto percentual, indo para 18,4%.
Segundo os pesquisadores, as escolas se mostraram como uma fonte essencial no cuidado das crianças pequenas e, sem contar com elas, as mães foram afastadas do mercado de trabalho.
Além disso, eles acreditam que quanto mais tempo essas condições continuarem em vigor, mais difícil será para essas mulheres retomarem o trabalho, o que significa menos oportunidades no futuro e conquistas ao longo da vida.
Apesar de a principal função das escolas primárias ser a educação das crianças, elas também são fundamentais no cuidado com os pequenos. Pais, empresas e a própria economia dependem dessa infraestrutura que, com a chegada da pandemia, foi afetada.
Para entender a magnitude dos fechamentos das escolas, os pesquisadores utilizaram um banco de dados para medir o percentual de aulas presenciais, à distância e no modelo híbrido nos estados. A equipe também comparou as taxas de participação dos pais no mercado de trabalho antes e depois de as escolas reabrirem.
As descobertas demonstram o papel indispensável que as escolas desempenham não apenas no apoio ao bem-estar das crianças, mas também na capacitação dos pais, principalmente das mães, para manter seus respectivos empregos.
Para os pesquisadores, sem a participação igualitária dos pais em casa, as mulheres acabam carregando sozinha o peso da responsabilidade pela criação dos filhos, antes e durante a pandemia.
No artigo, três estados foram destacados como ilustrativos das consequências do fechamento das escolas sobre a questão de gênero no mercado de trabalho:
Maryland: experimentou a maior queda na participação das mães na força de trabalho. Em 2019, as mulheres da região com filhos entre 5 a 12 anos tinham 90% de chances de ter um emprego. Quando as escolas abriram em 2020, a proporção caiu para 74%. Em comparação, a probabilidade prevista para os pais caiu de 92% para 87%.
Nova York: quase metade das escolas primárias do estado adotaram o sistema híbrido de ensino. Nesse caso, a participação das mães na força de trabalho de 79% para 72%. Os pais, por sua vez, tiveram redução de 96% para 92%.
Texas: mais da metade das instituições ofereciam educação presencial em tempo integral para os estudantes do ensino fundamental. Nesse contexto, a participação da força de trabalho caiu de 77% para 67%, e a dos pais foi de 96% para 93%. Embora tenha sido uma mudança maior quando comparada à Nova York, ainda é menor do que a observada em Maryland.
Em todos os estados foi registrada uma diminuição nos vínculos de trabalho das mães, mas a diferença maior foi em Maryland, onde o ensino eram totalmente remoto no início do ano letivo.
Uma em cada três mulheres norte-americanas que deixaram o emprego desde o início da pandemia de Covid-19 cita as demandas de cuidado com os filhos como uma das principais razões por terem parado de trabalhar. Além disso, segundo os pesquisadores, evidências também sugerem que a desigualdade de gênero na divisão das tarefas domésticas piorou com o isolamento social.
Os autores do artigo têm estudado o impacto da pandemia no trabalho remunerado das mães desde o início das paralisações. De acordo com as análises preliminares, as mulheres se mostraram mais propensas a reduzir a jornada de trabalho ou sair por completo da força de trabalho porque, provavelmente, assumem uma parcela maior do trabalho doméstico, cuidados com as crianças e educação domiciliar quando comparadas aos pais.
As mães também relataram aumento de quadros de ansiedade, depressão e redução da qualidade do sono, especialmente depois de experimentarem a perda do emprego ou crescimento do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos.
De acordo com os pesquisadores, as consequências da sobrecarga nas mulheres durarão muito além da pandemia. Quando elas são forçadas a escolher entre família e trabalho, o impacto não é só sobre a estabilidade financeira, mas também sobre o bem-estar psicológico, a independência econômica e as realizações profissionais.
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