Pandemia faz 40% dos alunos do ensino básico pensarem em desistir

Como esperado, a pandemia aprofundou as desigualdades já conhecidas

Redação Publicado em 24/06/2021, às 18h00

O baixo desempenho escolar é a principal preocupação dos pais ou responsáveis - iStock

Pesquisa Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com pais e responsáveis por crianças e adolescentes, divulgada nesta quinta-feira (24), traz dados alarmantes sobre estudantes de escola pública do Brasil. De maio de 2020 a maio de 2021, o número de alunos que não mostraram evolução nos estudos, apresentaram desmotivação e até revelaram o desejo de desistir dos estudos aumentou 14 pontos percentuais, representando 40% do total.

Nestes 12 meses, o Datafolha realizou seis pesquisas na série “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”. A pesquisa quantitativa foi feita entre 22 de abril e 21 de maio deste ano, por meio de abordagem telefônica, com os pais e responsáveis pelos estudantes com idades entre 6 e 18 anos, de todas as regiões do país.

Desigualdades acentuadas

Como esperado, a pandemia aprofundou as desigualdades já conhecidas e os números comprovam: enquanto 35% dos estudantes brancos pensam em abandonar a escola, a porcentagem entre os negros é de 43%. No aspecto socioeconômico, quase metade dos estudantes de famílias que vivem com apenas um salário mínimo correm o risco de parar os estudos. Nas áreas rurais os índices são de 51% em contraste com as áreas urbanas, 39%. A região Sul representa 31%, enquanto a nordeste, 50%.

De acordo com os pais ou responsáveis entrevistados, 88% dos alunos matriculados do 1º ao 3º ano do ensino fundamental ainda estão em “processo de alfabetização”, sendo que mais da metade deles ficou no mesmo patamar, sem aprender nada de novo (29%) ou desaprendendo o que sabia (22%). Novamente, a desigualdade chama atenção: 57% dos estudantes brancos aprenderam algo novo, na visão dos responsáveis, enquanto entre os negros, o índice cai para 41%.

Desempenho reduzido

O estudo também mostrou que 96% dos alunos receberam algum tipo de atividade escolar neste ano, porém isso não se reflete necessariamente na percepção dos entrevistados sobre o desempenho: 86% dos pais e responsáveis afirmaram que o desempenho escolar dos jovens antes da pandemia era ótimo ou bom e, agora, esse índice caiu para 59% - uma diferença de 27 pontos percentuais. O baixo desempenho escolar é a principal preocupação deles no caso de alunos que não estão em processo de alfabetização.

De acordo com os responsáveis pela pesquisa, os dados mostram que houve esforços expressivos para oferta do ensino remoto na rede pública, embora as desigualdades em relação à qualidade dessa oferta se acentuaram. Eles alertam que é urgente estabelecer uma estratégia com o compromisso de ampliar as oportunidades aos mais vulneráveis e tentar recuperar o que foi perdido. 

"O efeito de longo prazo da Covid-19 no Brasil será na educação. Uma geração inteira ficará profundamente marcada pela pandemia e o Brasil precisará de múltiplas ações para superar as perdas de aprendizagem. Isso deve ser prioridade para o país", afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

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