Para as pessoas é melhor sofrer do que não saber, mostra estudo

Em uma série de experimentos, estudantes preferiram ver cenas desagradáveis e até levar choque a ficar na incerteza

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h38 - Atualizado às 23h55

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A curiosidade faz parte do instinto humano, e sem ela ninguém teria motivação para aprender. Mas uma pesquisa mostra que essa sede por informação às vezes leva a resultados desagradáveis e até dolorosos. E as pessoas teimam em arriscar mesmo sabendo que a consequência pode ser negativa.

É o que mostra um estudo realizado na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Os resultados foram publicados no periódico Psychological Science, da Associação para a Ciência da Psicologia.

Estudos anteriores já tinham comprovado que a curiosidade leva as pessoas a explorar terrenos perigosos, colocando a própria vida em risco. Mas uma equipe de pesquisadores decidiu investigar a razão por trás disso e descobriu que essa atitude aparentemente sem sentido decorre do desejo profundo que o ser humano tem de resolver a incerteza, mesmo que isso envolva um resultado desagradável.

Os autores fazem uma analogia ao mito de Pandora, que, por causa de sua curiosidade, abriu a caixa que continua todos os males do mundo, apesar de ter sido avisada sobre seu conteúdo.

Em um experimento, os pesquisadores convidaram 54 estudantes de graduação para entrar num laboratório onde havia algumas canetas disponíveis na mesa. Eles foram informados que os objetos eram de uma pesquisa anterior e que, ao apertar o botão para escrever, poderiam levar um choque. Os estudantes foram deixados na sala e podiam brincar com os objetos para matar o tempo, se quisessem, até que fossem chamados.

Para uma parte do grupo, as canetas que davam choque tinham um adesivo vermelho, enquanto as que não davam, tinham um sinal verde. Assim, os participantes sabiam com certeza o que aconteceria ao mexer em cada objeto. Para outro grupo, no entanto, as canetas tinham todas um adesivo amarelo. Eles foram informados que algumas estavam sem bateria, por isso não daria para saber quais dariam choque.

Os resultados foram claros: os estudantes deixados com as canetas amarelas apertaram o botão muito mais vezes do que os outros, que sabiam ao certo quais dariam choque.

Em um segundo experimento, todos os participantes receberam canetas com sinal verde, vermelho e amarelo. Mais uma vez, as últimas, de resultado incerto, foram as mais testadas  pelos alunos.

No terceiro teste, eles foram expostos a um monitor de computador com 48 botões, sendo que cada um emitia um som quando clicado. Alguns eram identificados como “prego”, e geravam o som desagradável de batidas na parede. Outros, rotulados como “água”, emitiam o som de água corrente. E os botões com sinal de interrogação podiam gerar qualquer um desses ruídos, em igual proporção. O resultado? Claro que os botões com barulho incerto foram os mais clicados.

Por último, os participantes eram expostos, no computador, a imagens de insetos nojentos, como baratas e traças. Algumas delas continham um filtro escuro que impedia uma boa visualização, e nesse caso era possível dar um clique para ver melhor a imagem. Claro que a tendência das pessoas era enxergar melhor o inseto, mesmo sabendo que ficariam com nojo.

Para os pesquisadores, testes simples como esses confirmam que as pessoas tendem a buscar a informação que está faltando a qualquer custo, mesmo sabendo que isso pode gerar uma reação desagradável.  Em última instância, os resultados dão respaldo para o velho ditado popular, segundo o qual a “curiosidade mata”.

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