Dois estudos recentes trazem evidências de que uma dieta rica em carne pode aumentar o risco de diabetes tipo 2. Embora as pessoas associem a condição ao consumo exagerado de açúcares e carboidratos, os resultados a origem da doença é mais complexa.
Em um dos estudos, publicado The Lancet Diabetes and Endocrinology, pesquisadores analisaram dados de quase 2 milhões de adultos que participaram de 31 estudos em 20 países, incluindo os Estados Unidos e partes da Europa e Ásia.
Os dados foram analisados em um ponto inicial e 10 anos depois. Após ajustar fatores que poderiam interferir nos resultados, como obesidade, histórico familiar de diabetes e sedentarismo, eles descobriram o seguinte:
- para cada 50 gramas de carne processada diariamente (o que equivale a 1 salsicha média ou 3 fatias de bacon), o risco de diabetes tipo 2 aumentava em 15%;
- para cada 100 gramas de carne vermelha não processada ingerida diariamente (ou um pequeno bife), o risco aumentava em 10%;
- uma porção diária de frango também foi associada a um aumento de 8% no risco de diabetes tipo 2, mas esse resultado foi menos significativo nos estudos europeus, o que determina a necessidade de mais estudos.
A conclusão, segundo os pesquisadores da Universidade de Cambridge, é que quanto menos carne vermelha e processada você consumir, melhor.
As descobertas coincidem com pesquisas anteriores, incluindo um grande estudo feito nos Estados Unidos e publicado em outubro.
Existem várias explicações potenciais para a relação entre o consumo regular de carne e o risco de diabetes tipo 2.
Uma delas é que as carnes vermelhas e processadas tendem a ser mais ricas em gorduras saturadas do que em gorduras insaturadas, uma composição associada a uma maior resistência à insulina, o que pode levar ao diabetes tipo 2.
As pessoas que comem mais carne podem também consumir menos alimentos saudáveis, como frutas e vegetais, de acordo com os pesquisadores.
Cozinhar a carne em altas temperaturas, como fritar na frigideira ou grelhar em fogo aberto, também pode formar certos compostos que podem causar danos celulares, inflamação e resistência à insulina. E tudo isso pode contribuir para o diabetes tipo 2.
Um estudo publicado na semana passada na revista Nature Metabolism acrescentou evidências para outra hipótese antiga: que o ferro heme — um tipo de ferro encontrado em níveis altos na carne vermelha (e em menor grau em peixes e aves) — pode contribuir para o diabetes tipo 2.
Os pesquisadores acompanharam quase 205 mil adultos predominantemente brancos nos Estados Unidos por até 36 anos, durante os quais cerca de 21 mil deles desenvolveram diabetes tipo 2.
Aqueles com o maior consumo de ferro heme — principalmente vindo de oito a dez porções de carne vermelha não processada por semana — eram 26% mais propensos a desenvolver diabetes tipo 2 do que aqueles com o menor consumo. Eles também apresentavam níveis lipídicos mais altos, marcadores de resistência à insulina e inflamação, e outros compostos ligados ao diabetes tipo 2 em seu sangue, revelou o estudo.
Isso acrescentou evidências existentes que sugerem que o ferro heme provavelmente desempenha um papel importante na ligação entre a carne vermelha e o diabetes tipo 2, segundo a equipe da Universidade de Harvard que liderou o estudo.
Por outro lado, o ferro heme não explica a ligação entre a carne vermelha processada e o diabetes tipo 2. Outros componentes, como conservantes e sódio, são provavelmente mais importantes para o risco das carnes processadas.
Embora o consumo regular de carnes vermelhas e processadas tenha sido associado a uma saúde mais precária, as carnes processadas têm a ligação mais forte e consistente com o diabetes tipo 2 e outras condições, como o câncer. Por isso esse é o principal grupo a ser evitado.
As carnes processadas incluem não apenas produtos tipicamente considerados prejudiciais à saúde, como salsichas e bacon, mas também aqueles que parecem saudáveis, como salsichas de peru e frios.
Isso não significa que você nunca deve comer esses alimentos. Em vez disso, pense neles como guloseimas ocasionais.
Quanto à carne vermelha, ainda não há dados suficientes para dizer exatamente quanto é demais. Mas com base nas evidências atuais, uma ou duas porções por semana provavelmente são aceitáveis.
A recomendação geral é mudar de uma dieta centrada na carne para uma mais baseada em alimentos de origem vegetal, como grãos, leguminosas, vegetais e frutas, que são associados a um menor risco de diabetes tipo 2.
Fonte: The New York Times
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin