Redação Publicado em 05/02/2021, às 13h00
Um processo de educação que incentiva crianças a ter empatia com outras pessoas pode melhorar a criatividade e proporcionar outros resultados benéficos de aprendizagem, sugere uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge e publicada na revista Improving Schools.
A descoberta é de um estudo com alunos de 13 a 14 anos do curso Design e Tecnologia (D&T) de duas escolas do interior de Londres (Inglaterra). Durante um ano, uma das instituições seguiu as aulas prescritas pelo currículo anual, enquanto a outra utilizou uma série de ferramentas que buscavam promover o pensamento criativo dos alunos e gerar empatia, ao mesmo tempo em que resolviam problemas do mundo real.
Os dados mostraram que houve um aumento significativo na criatividade no grupo de alunos que sofreu a intervenção no método de aprendizagem. Os autores da pesquisa sugerem que incentivar a empatia não apenas melhora a criatividade, como também é capaz de aprofundar o engajamento geral dos alunos no processo de aprender.
Uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, Helen Demetriou, mostrou-se entusiasmada com o resultado: "Nós claramente despertamos algo nesses alunos, encorajando-os a refletir sobre os sentimentos e pensamentos dos outros. A pesquisa mostra não só que é possível ensiná-los a ter empatia, mas também, ao realizar isso, apoiamos o desenvolvimento da criatividade das crianças e seu aprendizado mais amplo”.
Outra descoberta da pesquisa foi a evidência de que meninos e meninas da escola que passaram pela intervenção reagiram ao curso de D&T de diferentes formas, desafiando estereótipos tradicionais de gênero.
Segundo o estudo, os meninos apresentaram uma melhora acentuada na expressão emocional, marcando 64% a mais ao final do ano quando comparado ao início das aulas. Já as meninas apresentaram melhoras na empatia cognitiva (que permite entender como o outro pensa), mostrando 62% mais perspectivas.
Essas diferenças indicam que a intervenção permitiu a superação de algumas barreiras à aprendizagem que, muitas vezes, são impostas pelos papéis assumidos de gênero. Alguns meninos, por exemplo, se sentem desencorajados a expressar emoção e sensibilidade na escola. Entretanto, esse foi um dos principais pontos em que eles tiveram ganhos criativos durante os testes.
A pesquisa é uma colaboração entre a Faculty of Education e o Departamento de Engenharia da Universidade de Cambridge. O estudo faz parte da iniciativa “ Projetando o amanhã”, liderada por Bill Nicholl e Iam Hosking.
Os dois conjuntos de alunos foram avaliados pela criatividade tanto no início do ano letivo, como ao final. Para realizar essa avaliação, foi utilizado o Teste de Torrance do Pensamento Criativo, um teste psicométrico que analisa a personalidade do indivíduo e suas capacidades.
O principal desafio usado no estudo para os alunos da intervenção era pedir que projetassem um pacote de tratamento de asma para crianças menores de seis anos.
Para cumprir essa missão, os estudantes receberam várias “ferramentas” criativas e empáticas: foram apresentados os dados do número de mortes por asma infantil no Reino Unido e um vídeo que mostrava uma criança tendo uma crise.
Bill Nicholl, um dos idealizadores da iniciativa e professor sênior em Educação em D&T da Universidade de Cambridge comentou: “Ensinar as crianças a ter empatia é construir uma sociedade onde apreciamos as perspectivas uns dos outros. Certamente isso é algo que queremos que a educação faça."
No início do ano, as notas referentes à criatividade dos estudantes da escola controle (que seguiu o currículo padrão), eram 11% maiores do que as da escola em que houve a intervenção. Ao final do ano, esse último grupo obteve notas 78% mais altas em comparação com os alunos da instituição de controle.
Os pesquisadores também realizaram a avaliação de categorias específicas do Teste de Torrance que indicam empatia emocional ou cognitiva, entre eles “expressividade emocional” e “mente aberta”. Os estudantes da escola que sofreu intervenção tiveram novamente uma pontuação superior, indicando que a melhora na empatia estava impulsionando as notas gerais de criatividade.
Em geral, segundo os autores, a pesquisa sugere a necessidade de se criar alunos emocionalmente inteligentes em todas as áreas. Afinal, segundo evidências científicas, a capacidade de empatia diminui à medida em que ocorre o processo de envelhecimento.
“Isso é algo em que devemos refletir, vivendo em um mundo em que currículos se tornam cada vez mais baseados em exames”, comenta Helen Demetriou. Ela ainda completa “ Boas notas importam, mas para a sociedade prosperar, indivíduos criativos, comunicativos e empáticos também são fundamentais".
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