O topiramato, já utilizado contra enxaqueca e obesidade, diminuiu a quantidade consumida, mas com índice alto de efeitos colaterais
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h36 - Atualizado às 23h55
Já existem algumas drogas disponíveis para o tratamento da dependência do cigarro e do álcool. Já para a maconha, ainda não existe nenhuma opção. Um estudo recém-publicado, porém, apontou os benefícios de uma substância, o topiramato, já utilizada contra enxaqueca e obesidade.
Em combinação com aconselhamento psicológico, o uso da droga gerou resultados significativamente melhores em jovens dependentes de maconha do que o aconselhamento por si só. O único problema é que muitos participantes do estudo não toleraram os efeitos colaterais do topiramato.
Segundo especialistas, o tratamento psicológico sozinho não tem sido eficaz para ajudar pessoas que não conseguem ficar longe da maconha. Isso foi o que motivou os pesquisadores da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, que receberam financiamento do Instituto Nacional de Saúde para Abuso de Drogas.
O topiramato já foi pesquisado como potencial tratamento para dependência do álcool, da nicotina e da cocaína. Em relação à maconha, a combinação de droga e aconselhamento não diminuiu a frequência do fumo, mas a quantidade consumida em cada ocasião. Os resultados foram publicados na revista Addiction Biology.
O trabalho contou com 66 voluntários, com idades entre 15 e 24 anos, que fumavam no mínimo duas vezes por semana e tinham interesse em reduzir o consumo. Mais da metade preenchia os critérios para dependência. O uso pesado de maconha é associado a perturbações da memória e aprendizado, dificuldade em manter a atenção e filtrar informações relevantes.
Divididos em dois grupos, um recebeu placebo e o outro, topiramato. Todos receberam sessões de 50 minutos de aconselhamento em três ocasiões ao longo do estudo, que durou seis semanas. As sessões envolviam um profissional que guiava discussões de caráter motivacional para redução do uso. Os resultados foram aferidos por entrevistas e também por testes de urina.
Apesar de os pesquisadores terem se animado com os efeitos da medicação, 21 dos 40 indivíduos que receberam a droga desistiram de participar, em comparação com apenas 5 entre os 26 que tomaram placebo. Dois terços daqueles que deixaram o estudo citaram os efeitos colaterais como motivo para sair – eles apresentaram depressão, ansiedade, perda de peso, dificuldades de coordenação e equilíbrio.
O próximo passo, segundo os pesquisadores, seria conseguir fazer uma pesquisa com mais gente. E também, se possível, determinar se existem características genéticas ou outros fatores que possam prever quem pode ter mais efeitos colaterais com o uso do topiramato.