Redação Publicado em 27/11/2018, às 18h08
Ter um transtorno relacionado ao uso do álcool pode ser algo mais complicado do que simplesmente beber demais. As manifestações do problema podem ser diferentes para cada pessoa e em cada fase da vida, segundo um estudo recém-publicado.
Em primeiro lugar, é bom entender o que significa, exatamente, ter um transtorno relacionado ao álcool. De acordo com a última edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, é preciso que a pessoa apresente pelo menos duas das características abaixo:
1) O álcool é frequentemente consumido em quantidades maiores e por períodos mais longos que se desejava
2) Desejo persistente ou esforços mal-sucedidos para controlar o uso do álcool
3) A pessoa gasta muito tempo não só bebendo, mas também nas atividades necessárias para obtenção do álcool ou para se recuperar dos efeitos do excesso de álcool
4) A pessoa sente fissura, ou um desejo intenso, de beber
5) O uso do álcool atrapalha o cumprimento de obrigações importantes
6) A pessoa continua a beber, apesar de ter problemas interpessoais ou sociais causados pelo álcool
7) O usuário abandona atividades sociais, ocupacionais ou recreativas para beber
8) A pessoa bebe mesmo em situações em que é perigoso fazer isso
9) O uso continua apesar da percepção de que existe um problema físico ou psicológico
10) Há tolerância, ou seja, é preciso consumir quantidades cada vez maiores para obter os mesmos efeitos
11) A pessoa apresenta sintomas de abstinência, como tremores e nervosismo, quando não bebe
Quanto mais sintomas, maior a intensidade do problema – a presença de seis ou mais indica que o transtorno é grave. Mas certas características podem prevalecer em certos grupos de usuários.
Pesquisadores da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, analisaram uma amostra representativa da população, com 5.400 pessoas de 18 e 64 anos com problemas relacionados ao álcool, e concluíram que existem cinco perfis diferentes de bebedores problemáticos:
– Os que só percebem os efeitos adversos do consumo abusivo, como ressaca no dia seguinte ou sintomas de abstinência (34% da amostra)
– Os que apresentam diversos problemas relacionados ao álcool, mas não acham que a bebida interfere com a família, amigos, trabalho ou hobbies (21%)
– Os altamente problemáticos, que já experimentaram todos os sintomas do transtorno do uso de álcool (7%)
– Os que lutam para reduzir o consumo de álcool (por causa de todos os problemas experimentados pelo abuso), mas não conseguem (13%)
– E os que, além de beber demais, já passaram por algum acidente ou outras situações de risco por causa do álcool (25%).
Os pesquisadores dizem que os três primeiros perfis foram mais comuns nos indivíduos mais jovens, enquanto os dois últimos envolveram usuários mais velhos, com 50 ou 60 anos. Os pesquisadores não sabem se esses perfis se modificam ao longo da vida, ou se são fixos e, portanto, ligados a características pessoais.
Mas o que o estudo propõe é que, além de levar em conta a intensidade do transtorno, o tratamento deve levar em consideração esses diferentes perfis, que refletem diferentes impactos do uso problemático do álcool. Em outras palavras, a abordagem precisa ser individualizada para que tenha sucesso.