Mas isso só vale para pessoas que já bebiam antes de um ataque cardíaco ou derrame, por exemplo
Redação Publicado em 04/08/2021, às 12h00
Sobreviver a um ataque cardíaco, derrame ou angina dá à pessoa a oportunidade de fazer um balanço das escolhas diárias que faz em relação à saúde. Uma dessas mudanças para pessoas com doença cardiovascular (DCV) que bebem álcool pode envolver a reconsideração do papel que a bebida tem em suas vidas daqui para a frente.
Um novo estudo descobriu que consumir até 7,5 doses de bebidas alcoólicas por semana pode diminuir o risco de ataques cardíacos recorrentes, derrame, angina e morte em pessoas com DCV que já bebiam do que naquelas que não o faziam.
Uma dose padrão de bebida alcoólica, nos Estados Unidos, contém 14 gramas de álcool. Porém, é preciso lembrar que diferentes bebidas contêm diferentes porcentagens de álcool. Para os autores do estudo, as descobertas sugerem que as pessoas com DCV podem não precisar parar de beber para evitar ataques cardíacos, derrames ou angina adicionais, mas podem querer reduzir sua ingestão semanal de álcool.
O estudo foi publicado na BMC Medicine, uma publicação que faz parte da Springer Nature. É preciso deixar claro que em nenhum momento o estudo sugere que pessoas com DCV, que ainda não bebiam, comecem a fazê-lo. Isso porque o consumo de álcool está associado a um risco aumentado de desenvolver outras doenças.
Os autores do estudo analisaram registros de saúde de 48.423 adultos no Reino Unido com DCV. O UK Biobank, o Health Survey for England e o Scottish Health Survey forneceram os dados, assim como 12 estudos anteriores. Também foram usados dados de indivíduos que documentaram e relataram o consumo de álcool por 14 anos, de 1994-2008. Para o estudo, os pesquisadores compararam as histórias com registros de internação hospitalar, saúde e registros de óbitos.
Outros médicos que analisaram o estudo disseram que ele não conta, entre os usuários de álcool, os bebedores pesados ou aqueles que pararam de beber devido a problemas de saúde, “tornando os bebedores atuais mais saudáveis em comparação com os que não bebem”. Isso pode ter como resultado exagerar os efeitos positivos da bebida. Os autores também observaram essa limitação no estudo.
Também disseram que é preciso se preocupar com a qualidade dos subestudos na análise, pois apenas nove dos 14 incluídos na pesquisa rastrearam os medicamentos que os participantes estavam tomando, o que poderia ser um fator de confusão. Outro ponto é o fato de o estudo não documentar as bebidas alcoólicas específicas que as pessoas consumiam.
Além disso, independentemente de qualquer benefício potencial, a embriaguez continua a ser uma preocupação. A maioria dos pacientes com DCV é idosa, e um pouco de álcool pode fazer com que caiam, e se eles estiverem tomando anticoagulantes, por exemplo, isso pode causar graves problemas de sangramento.
Um risco reduzido de ataques cardíacos recorrentes, derrame, angina ou morte foi associado à ingestão de até 15 g de álcool por dia, um pouco mais do que uma dose diária. No entanto, o benefício máximo do consumo de álcool observado no estudo – um risco 50% menor de eventos cardiovasculares – foi experimentado por pessoas que bebiam apenas 6 g de álcool por dia em comparação com pessoas com DCV que não bebiam.
Para as pessoas que consumiram 7 g de álcool, apenas um grama diário de álcool a mais, a redução do risco de mortalidade por todas as causas caiu significativamente para 21%. Curiosamente, beber 1 grama adicional de álcool produziu um resultado ligeiramente melhor: para pessoas que beberam 8 g de álcool por dia, a redução da mortalidade cardiovascular foi de 27%.
O estudo também detectou diferenças entre subgrupos de pessoas com DCV e descobriu que “mortalidade e morbidade diferem por sexo e são mais pronunciadas entre pessoas com infarto do miocárdio do que angina ou acidente vascular cerebral”. Os autores sugerem que esses achados levantam a questão de se os limites diferenciais de consumo devem ser recomendados em subgrupos de pacientes e justificam uma investigação mais aprofundada.
Outras limitações da meta-análise incluem que, em cada um dos estudos analisados, a definição de eventos cardiovasculares é diferente, de modo que o impacto pode não estar associado a todas as formas de DCV. Os autores aconselham cautela com a interpretação do subgrupo, pois os dados são limitados e a escala usada pode não ser relevante para muitos dos estudos que foram específicos para exposição ao álcool, comportamento de beber ou tipo de bebida.
Por fim, os autores explicam que suas descobertas estão sujeitas a um viés de autorrelato, padrões de consumo e consumo excessivo de álcool. Eles também observam que as informações sobre hábitos alimentares ou atividade física não estavam disponíveis em todos os estudos incluídos na meta-análise, e a confusão residual pode persistir.
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