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Pessoas com psoríase precisam dar atenção à saúde cardiovascular

A presença de placas avermelhadas ou descamativas na pele é uma característica da psoríase - iStock
A presença de placas avermelhadas ou descamativas na pele é uma característica da psoríase - iStock

Neste Dia Mundial do Coração (29), alguns médicos chamam atenção para o risco cardiovascular associado a condições autoimunes como a psoríase, uma doença inflamatória que tem como principal característica lesões avermelhadas e descamativas na pele, que podem aparecer em diferentes partes do corpo, além de dores nas articulações em parte dos pacientes.

Estima-se que 2 milhões de brasileiros tenham psoríase, e cerca de metade dessas pessoas apresentam uma ou mais doenças associadas. Segundo o dermatologista Leandro Leite, que é preceptor do ambulatório de doenças autoimunes do Hospital São Lucas, da PUCRS, vários estudos indicam que pacientes com psoríase mais grave são os que têm maior risco de sofrer eventos cardiovasculares como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

Controle de fatores de risco é fundamental

O médico ainda destaca que nos pacientes com psoríase há uma maior prevalência de outros fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade e tabagismo. “Uma vez que a psoríase em si já é um fator independente para o risco cardiovascular, é fundamental triar estes outros fatores de risco nos pacientes e orientar quanto ao seu controle adequado”, alerta. Na entrevista abaixo, Leite explica melhor a relação entre as doenças e comenta alguns avanços recentes no tratamento da psoríase.

Qual a relação entre psoríase e doenças cardiovasculares?

Os trabalhos mostram que os pacientes com psoríase apresentam um risco cardiovascular elevado. Isso quer dizer que há um maior risco de desenvolver eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e morte de origem cardiovascular, quando comparados a pessoas sem psoríase. A explicação para esse risco seria a inflamação sistêmica causada pela doença. A psoríase é uma doença inflamatória de origem autoimune. Nos pacientes com psoríase, a atividade imunológica desenfreada leva a produção de substâncias pró-inflamatórias que podem acometer diversos órgãos além da pele, inclusive o endotélio vascular que é a camada mais interna dos vasos. Este dano acaba predispondo à formação das placas de ateroma nos vasos que são as grandes responsáveis pelos eventos cardiovasculares. 

Os pacientes com maior risco são os que apresentaram uma maior exposição à psoríase. Ou seja, são aqueles com a doença mais grave, mais extensa e com desenvolvimento mais precoce. Uma vez que a doença não tem cura, aquele que desenvolve a doença mais jovem, acaba se expondo por mais tempo à carga inflamatória da psoríase.  

Poderia explicar as estimativas de incidência de psoríase na população brasileira? E qual a estimativa do risco cardiovascular? 

No Brasil, o dado mais fiel de prevalência da psoríase vem de um estudo de inquérito por telefone publicado em 2017 que demonstrou uma estimativa de 1,31% da população brasileira. A quantidade real de pacientes com psoríase e doenças do coração é desconhecida. Mas sabemos que, dos pacientes com psoríase, cerca de 20% apresentam a forma mais grave e são estes que apresentam um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares.  

Como é o tratamento da psoríase e quais os avanços mais recentes?

O tratamento da psoríase sofreu uma revolução nos últimos 15 anos. O melhor entendimento da origem da doença nos proporcionou a identificação das principais substâncias do sistema imune envolvidas no seu desenvolvimento. Com isso, foi possível elaborar terapias alvo, que apresentam uma eficácia cada vez maior e um melhor perfil de segurança. 

Quadros leves podem ser tratados com medicações tópicas, como géis e pomadas. Já os quadros mais graves, ou os que não responderam ao tratamento tópico, devem ser tratados com fototerapia (uma modalidade terapêutica que usa luz em comprimentos de onda anti-inflamatórios) ou tratamento sistêmico (aqueles por via oral ou injetável). O tratamento sistêmico vai desde medicações convencionais até as mais modernas, como os imunobiológicos. 

Referências: 

Gelfand JM, et al. JAMA, 2006.

Gelfand JM, et al. Arch Dermatol. 2007.

Abuabara K et al. Br J Dermatol. 2010;163:586-92.

Armstrong EJ, et al. J Am Heart Assoc. 2013.

Romiti R, et al. Int J Dermatol. 2017;56(8):e167-e168.

Garshick MS, et al. J Am Coll Cardiol. 2021.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin