Cármen Guaresemin Publicado em 05/08/2022, às 13h00
Os primeiros registros de uso de piercing correspondem há mais de 4 mil anos. Eram colocados no nariz e, em algumas culturas, o material com o qual eram feitos era uma forma de mostrar o status social de quem o usava. No Alasca, entre os esquimós, era símbolo da transição da criança para a vida adulta. Atualmente, o acessório se tornou mais um item da moda e de comportamento. E é colocado em várias partes do corpo, especialmente por jovens.
Porém, é preciso muito cuidado, especialmente quando o adereço é colocado na língua, pois pode gerar algumas complicações odontológicas potencialmente importantes. Conversamos com dois dentistas que explicam os riscos e dão dicas de cuidados para quem já tem ou pensa em colocar um piercing na língua.
- Colocar piercing na língua traz algum perigo?
Para a dentista Patrícia Almeida, especialista em reabilitação oral e estética, depende. “Com relação ao material, o titânio é biocompatível com o corpo. O problema é o acúmulo de placa e bactérias. Neste caso, a pessoa precisa redobrar os cuidados com a higiene bucal, pois quando se tem esse tipo de piercing, é muito fácil que essa região infeccione devido ao acúmulo de alimentos”.
Para o Professor Livre-Docente do Departamento de Diagnóstico Oral da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp, Alan Roger dos Santos Silva, sim, pode causar complicações: “O uso de piercing oral, em geral, incluindo dispositivos em língua, pode gerar algumas complicações odontológicas potencialmente importantes incluindo gengivite, recessão gengival (quando o tecido da gengiva abaixa em relação ao dente, deixando parte raiz dentária exposta), fratura dentária e infecções orais persistentes, entre outras”.
- Quais os problemas que podem surgir?
Patrícia conta que os mais comuns são mau hálito, dor e inchaço na região e quadros de infecção que podem levar a doenças periodontais. Além disso, nos casos mais graves ocorre a endocardite, que é uma inflamação das válvulas e dos tecidos cardíacos. Silva acrescenta, sangramento.
- Temos como evitar esses problemas?
O professor é enfático: não realizando piercings orais. “Contudo, pacientes que usam estes dispositivos devem ser acompanhados clinicamente por um cirurgião-dentista em frequência semestral, de modo a prevenir estas complicações citadas acima”. Patrícia indica: realizar higiene bucal após todas as refeições, com escova, creme dental e fio dental. “Escovar os dentes e não esquecer da língua, lembrando que na língua não é recomendado o uso de creme dental, lave a escova antes de higienizá-la". Além disso, para ela, é imprescindível fazer uma limpeza com dentista a cada três meses.
- E como tratar esses problemas quando surgem?
O tratamento em consultório se inicia com a limpeza e raspagem, indica Patrícia: “Geralmente, é feita a adequação do meio bucal e a parte clínica é de acordo com a necessidade do paciente”. Para o professor, por meio das orientações e condutas de um cirurgião-dentista, de modo direcionado para a complicação específica que o piercing causar. “Via de regra, isso gera a necessidade de remoção do dispositivo oral”.
- Há alguma coisa que possa ser feita para cicatrizar mais rápido?
“O ideal seria a pessoa procurar o dentista antes de colocar o piercing”, aconselha Patrícia. “Para fazer a adequação do meio bucal. Após a instalação do piercing seguir as orientações do profissional que fez a instalação e caprichar na higiene bucal”, acrescenta.
-Se houver problema e não for tratado o que pode ocorrer?
Segundo Silva, em casos raros, pode acontecer a propagação de infecções orais com potencial para gerar prejuízo aos dentes e ao periodonto (gengiva e osso que dá suporte e proteção aos dentes). Patrícia completa: “Pode ocorrer intercorrências com a mastigação, deglutição e com a fala. Além disso, a língua pode sangrar frequentemente e aparecer lesões nos dentes por conta do trauma com o piercing. Nos casos mais graves, a endocardite, que pode levar a internação do paciente, pois a abertura causada pela perfuração dá às bactérias da boca a oportunidade de entrar na corrente sanguínea, podendo chegar ao coração”.
Terminando, Silva recomenda: “Idealmente, faça seguimento clínico com um cirurgião-dentista especialista em Estomatologia, campo da Odontologia especializado no diagnóstico e tratamento das doenças da boca. O site da Sociedade Brasileira de Estomatologia possui um indicador de profissionais especialistas por regiões do Brasil”.
Fontes
Patrícia Almeida é dentista, especialista em reabilitação oral e estética, idealizadora da Odontologia Almeida e integrante da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas
Alan Roger dos Santos Silva é Professor Livre-Docente do Departamento de Diagnóstico Oral da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp) e Fonte do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp)
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