Crianças pequenas expostas a ambientes domésticos estressantes e submetidas à poluição na barriga da mãe podem ser mais propensas a desenvolver problemas
Jairo Bouer Publicado em 17/01/2020, às 19h12
Crianças pequenas expostas a ambientes domésticos estressantes e submetidas à poluição na barriga da mãe podem ser mais propensas a desenvolver problemas de atenção, sugere um estudo. O trabalho reforça evidências recentes que sugerem o impacto dos poluentes presentes em grandes cidades na saúde mental.
A exposição precoce ao estresse é um fator de risco bem conhecido para transtornos mentais. Mas, para pesquisadores das áreas de neurobiologia, psiquiatria e saúde pública da Universidade de Columbia, nos EUA, o contato das gestantes com hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), um poluente neurotóxico, é capaz de amplificar esses efeitos nos filhos.
Para chegar à conclusão, a equipe analisou dados de um estudo conduzido no norte de Manhattan e no Bronx. Grávidas residentes nessas regiões usaram mochilas com aparelhos que mediam a qualidade do ar durante o primeiro trimestre de gestação. Depois, quando seus filhos completaram 5 anos de idade, essas mães foram entrevistadas para relatar suas experiências com eventos estressantes, como problemas financeiros, violência íntima e ausência de suporte social.
Entrevistas para avaliar possíveis sintomas psiquiátricos nas crianças foram conduzidas com essas mães quando os filhos tinham 5, 7, 9 e 11 anos de idade. A interação entre estresse precoce e exposição a níveis mais altos de poluição foi associada a problemas de atenção, hiperatividade e pensamentos ou comportamentos obsessivos.
O estresse causa mudanças que envolvem a expressão dos genes, liberação de cortisol (o hormônio do estresse), inflamação e mudanças em funções cerebrais. Os autores do estudo dizem que os efeitos do HPA ainda precisam ser melhor investigados, mas eles acreditam que esse poluente cause alterações no cérebro a partir de mecanismos parecidos ao do estresse.
Estudos anteriores já sugeriram que a exposição prenatal à poluição somada à pobreza interferem no desempenho cognitivo (de memória e aprendizado) das crianças. Uma pesquisa realizada pela London School of Economics, em 2001, até indicou que a variação nos níveis de poluentes de um dia para outro podem ter impacto no resultado das provas na escola.
Entender como o ambiente em que se vive pode ter impacto na saúde mental das pessoas é fundamental, já que mais da metade da população mundial vive em grandes cidades, segundo relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM).