Cármen Guaresemin Publicado em 27/06/2022, às 17h00
Pode ter acontecido com alguém que você conheça ou até mesmo com você; aparece aquela dor nas costas e com ela a dúvida: será que é o rim? A dor nos rins é um desconforto muitas vezes descrito como incômodo, que sentimos nas laterais, nas costas ou na barriga. Mas a dor nessas áreas nem sempre é um sinal de problema renal. É fácil confundir dor nos rins com aquela dor comum nas costas.
Porém, existem algumas diferenças em como a dor nos rins se manifesta e onde está localizada em comparação com a dor nas costas. Para explicar melhor, entrevistamos a médica nefrologista e especialista em medicina intensiva Caroline Reigada:
Muita gente confunde dor nas costas e dor causada pelo rim?
Sim, as pessoas geralmente pensam que a dor nas costas vem do rim, mas é mais provável que o desconforto seja devido a espasmo ou tensão muscular ou a um problema relacionado à coluna. Os rins estão localizados mais acima do que a maioria das pessoas imagina. Portanto, a dor nas costas, um dos problemas mais comuns que leva as pessoas ao médico, raramente se deve a problemas renais.
E quando é realmente por causa de um problema renal?
Quando a dor está relacionada a um problema renal, não apenas é em uma região mais alta nas costas, mas os sintomas também são diferentes. Por exemplo, uma pedra nos rins que fica alojada no ureter (o tubo que vai do rim à bexiga) causa ondas de dor intensa em vez da dor constante, comum nas dores lombares. Uma pessoa com infecção renal (pielonefrite) quase sempre tem febre junto com dor no flanco.
Se a dor estiver localizada na área do rim, você deve consultar um médico. Ele tocará em seu flanco para ver se está sensível e, provavelmente, solicitará um exame de urina para procurar glóbulos vermelhos e brancos e um exame de sangue para garantir que os rins estejam funcionando normalmente. Com base nesses resultados, o médico também pode recomendar uma ultrassonografia ou tomografia computadorizada.
Quando são pedras nos rins, há sempre sintomas?
Quando uma pedra está localizada dentro dos rins, o paciente pode não apresentar sintoma nenhum e o diagnóstico ser feito por acaso, por meio de um exame de imagem abdominal como ultrassom ou tomografia. É bom saber que a famosa cólica renal, um quadro de dor lombar intensa, de início súbito, com irradiação para a região lateral do abdômen e frequentemente para a região genital, pode ser tão forte que chega a causar náuseas e vômitos. Muitas vezes vem acompanhada de sangue na urina por lesão da via urinária provocada pela pedra. Lembre-se que o maior diferencial no diagnóstico é a dor de origem osteomuscular.
A dor renal somente ocorre quando a cápsula do rim fica distendida, ou seja, quando uma pedra ou outro fator obstrui algum ponto da via urinária, levando à dilatação dos ureteres e, mais acima, do rim. Esta dor se manifesta de um lado só e não tem relação com os movimentos. Já a dor na coluna ou muscular, acomete geralmente os dois lados, piora com os movimentos e melhora no repouso.
Muita gente chega aos consultórios com essa dúvida?
Sim, essa é uma queixa muito comum. Principalmente porque existe uma confusão sobre a localização correta dos rins.
A maioria dos pacientes que chega pensando isso está certa ou se enganou?
Na maioria das vezes, as pessoas se enganam sobre a causa da dor nas costas, porque ela é proveniente de nervos, coluna ou músculos (dor osteomuscular).
Como distinguir os problemas?
Geralmente, como adiantei, a dor nas costas de origem osteomuscular manifesta-se na região lombar baixa, próxima aos quadris e glúteos. Essa dor pode ser constante, crônica, com períodos de melhora e piora. Tem intensidades variadas, podendo ser leve ou até intensa, muitas vezes impedindo o paciente de se movimentar normalmente. A movimentação usualmente piora este tipo de dor. Geralmente, o paciente relata que uma determinada postura, como ficar muito tempo em pé, ou quando precisa fazer algum esforço, como levantar peso, desencadeia ou piora a dor. Assim, o repouso tende a melhorar a dor. Movimentos de alongamento, calor ou massagem local também podem reduzir a dor osteomuscular.
Já na dor causada por problemas nos rins, a sensação dolorosa ocorre na região lombar alta (logo abaixo da caixa torácica), acometendo apenas um dos lados do corpo ou, mais raramente, os dois. É uma dor aguda e geralmente muito intensa, em especial quando provocada por pedras. Ela não é sentida no meio das costas, mas, sim, nas laterais. Com frequência, a dor de origem renal irradia para a lateral do abdômen do mesmo lado e até para os órgãos genitais (testículos ou grandes lábios). Sua principal característica é a constância ininterrupta: a dor não para e nem melhora, independente da postura ou do posicionamento adotado pelo indivíduo.
Além disso, quando a dor é osteomuscular, a pessoa pode senti-la mais superficial e, muitas vezes, ao palpar a pele ou a musculatura atingida o paciente vai referir dor. Ao contrário do que acontece quando há problemas nos rins, pois a sensação de dor é mais profunda. Muitas vezes a dor de origem renal é acompanhada de outros sintomas, como náuseas, vômitos, fadiga, tontura, febre, dor ao urinar, necessidade constante de urinar, sangue na urina e redução do fluxo de urina.
Quando a dor é causada pelo rim, o que está acontecendo?
Quando a dor é causada pelo rim, como nos casos das obstruções por pedras ou por tumores, ou no caso de infecções renais (pielonefrite), tromboses/hemorragias (como nos infartos renais e nos traumas que acometem os rins), a cápsula que envolve o rim fica distendida. Desta forma, o rim, que fica “inchado”, distende esta cápsula, causando uma dor visceral (profunda).
Qual o tratamento?
O único fator de melhora da dor causada pelo rim é a resolução da causa ou o uso de analgésicos, geralmente fortes. A dor pode vir acompanhada de náuseas, vômitos, vontade de evacuar, febre, calafrios, fraqueza, dor para urinar, redução da urina, necessidade de urinar toda hora.
Por favor, dê algumas dicas para evitar dor nos rins:
Como a dor do rim pode ser ocasionada por pedras, mais comumente, mas até por tumores ou infecções e hemorragias, o importante mesmo é prevenir:
Fonte: Caroline Reigada é médica nefrologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro; residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Integra o corpo clínico de hospitais, como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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