Pesquisadores encontram mecanismo que explica o desafio de aprender outra língua quando já somos adultos
Redação Publicado em 31/08/2021, às 17h30
Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia (EUA) em pacientes com epilepsia deu algumas pistas que ajudam a entender como o cérebro é capaz de gerenciar a tarefa de aprender um novo idioma enquanto retém a língua materna. A pesquisa ainda levanta a questão de por qual razão é tão difícil aprender um segundo idioma quando adultos.
Os resultados, publicados na Proceedings of the National Academy of Sciences, revelaram uma forma de compreender melhor como o cérebro lida com a troca entre a neuroplasticidade, capacidade de aumentar novas conexões entre os neurônios ao aprender coisas novas, e a estabilidade, que nos permite manter as redes integradas de coisas que já aprendemos.
Segundo os pesquisadores, ao aprender uma nova língua, o cérebro está, de alguma forma, acomodando ambas as forças, pois elas competem entre si.
Com a ajuda de eletrodos na superfície do cérebro para mapear os sinais neurais em alta resolução, os autores descobriram que aglomerados de neurônios espalhados pelo córtex da fala parecem se ajustar conforme uma pessoa conquista a familiaridade com sons estranhos.
Essas são as primeiras percepções sobre o que muda no ambiente cerebral entre o momento de escutar pela primeira vez os sons de uma língua estrangeira e ser capaz de reconhecê-los. A equipe explica que essa etapa intermediária é crucial no aprendizado da linguagem e é um processo dinâmico e único para cada indivíduo.
Para entender melhor como a atividade em regiões cerebrais associadas à linguagem muda à medida que um ouvinte se familiariza com sons estrangeiros, os pesquisadores trabalharam com 10 pacientes voluntários, com idades entre 19 e 59 anos, cuja língua materna era o inglês.
Foi pedido aos participantes para reconhecerem sons de fala em mandarim. Vale lembrar que esse idioma é uma linguagem tonal, na qual o significado das palavras se baseia não apenas nos sons vocálicos, mas também em mudanças sutis no tom de voz. Assim, falantes de línguas não tonais, como é o caso do inglês, acham muito desafiador diferenciar esses tons desconhecidos.
Cada um dos voluntários já havia feito uma cirurgia cerebral, na qual foram implantados em seus cérebros os eletrodos para localizar as fontes de suas convulsões. Ao longo dos dias, os pesquisadores trabalharam individualmente com eles, escutando gravações de vários falantes nativos de mandarim pronunciando determinadas sílabas de tons das mais diversas idades e gêneros.
Confira:
Após cada gravação, o paciente precisava indicar se achava que aquele tom estava oscilando ou permanecendo estável e, logo depois, recebia o feedback sobre se a percepção era ou não correta. Eles repetiram essa tarefa cerca de 200 vezes, durante várias sessões de cinco a 10 minutos.
De acordo com os pesquisadores, após esse período, as pessoas tinham passado pela fase inicial do aprendizado e se tornaram um pouco adeptas a categorizar e identificar os sons. Além disso, também foi observada muita variabilidade, ou seja, em certos momentos havia muitos acertos e, em outros, muitos erros, caracterizando os altos e baixos que parecem fazer parte do processo de aprendizagem.
Com o fim do experimento, os pesquisadores analisaram os sinais neurais gerados pelos pacientes e observaram um padrão. Outros estudos anteriores já sugeriram que a atividade em todo o córtex da fala pode aumentar à medida que uma pessoa se familiariza mais com uma língua.
Entretanto, o que a equipe deste estudo descobriu foi que existem sinais de mudanças distribuídos ao longo dessa área, com atividades aumentando em algumas regiões, mas diminuindo em outras, mantendo um equilíbrio cuidadoso.
De acordo com os autores, essas alterações podem estar relacionadas a uma área cerebral que está sintonizada com um tom em específico. Ou seja, alguns grupos de células responderam mais ao tom decrescente, enquanto outro conjunto celular engajou melhor um tipo de tom diferente. É como se cada aglomerado de neurônios assumisse papéis diversos.
Além disso, as regiões do cérebro mais ativadas por cada tom variou entre os indivíduos. Para os pesquisadores, isso pode explicar por que algumas pessoas aprendem uma nova língua com muito mais facilidade do que outras à medida que cada cérebro atinge o seu próprio equilíbrio entre manter a estabilidade da língua materna enquanto aprende um novo idioma.
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