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Por que eles precisam de tempo após ejacular? Estudo desafia explicação

O tempo necessário para o "segundo round" pode variar bastante e costuma aumentar com a idade - iStock
O tempo necessário para o "segundo round" pode variar bastante e costuma aumentar com a idade - iStock

Redação Publicado em 04/01/2021, às 17h31

“Dar duas sem tirar”, ou conseguir uma ereção logo depois de gozar é uma fantasia sexual comum, embora nem sempre viável. É que, depois ejacular, é necessário um tempo até conseguir uma nova ereção, o chamado “período refratário”, que varia bastante entre os homens e costuma aumentar com a idade. 

Essa característica masculina costuma ser atribuída a um hormônio chamado prolactina, que está envolvido em diversos processos fisiológicos. Mas um estudo recém-publicado coloca essa teoria em cheque, bem com como tratamentos que prometem diminuir o período refratário a partir da inibição do hormônio.

Teoria mais aceita

Cientistas do Centro Champalimaud para o Desconhecido, em Portugal, contam que decidiram explorar o papel da prolactina no período pós-ejaculação, mas acabaram descobrindo que a teoria não tem fundamento, segundo artigo publicado no periódico Nature Communications Biology.

Alguns estudos já mostraram que a prolactina é liberada um pouco antes que a ejaculação acontece nos homens. Como o período refratário começa logo após o homem ejacular, o que costuma corresponder ao orgasmo masculino, o hormônio era visto como o principal envolvido no tempo de recuperação.

Outra pista para a associação é que níveis cronicamente elevados de prolactina estão associados a falta de desejo, anorgasmia e disfunção ejaculatória. Nesses casos, o uso de drogas que inibem a liberação do hormônio trazem resultados positivos para a disfunção sexual. 

Segundo os pesquisadores, a ligação direta entre a prolactina e o período refratário pós-ejaculatório masculino nunca chegou a ser demonstrada, mas a teoria foi tão difundida que hoje aparece até em livros didáticos.

Como o estudo foi feito

A equipe realizou uma série de experimentos em camundongos, que têm uma sequência de fases no sexo semelhante a dos humanos. Eles escolheram duas linhagens diferentes de animais, que apresentam períodos refratários com durações diferentes.

Os níveis de hormônio foram medidos em diferentes momentos, e os pesquisadores confirmaram que a prolactina aumenta de forma significativa durante a interação sexual para esses animais. O passo seguinte foi avaliar a relação entre a prolactina e a duração do período refratário.

O primeiro teste consistiu em aumentar os níveis do hormônio artificialmente antes do período de excitação. Os pesquisadores ficaram surpresos ao ver que as cobaias de ambas as linhagens não tiveram a atividade sexual afetada por isso, como era esperado.

Em seguida, os pesquisadores avaliaram se bloquear a prolactina teria o efeito oposto no período refratário, ou seja, se os camundongos que tiveram o hormônio bloqueado se tornariam mais ativos sexualmente. De novo, isso não aconteceu.

Se a prolactina fosse realmente responsável pelo período refratário, os animais sem prolactina teriam recuperado a atividade sexual logo após a ejaculação. Isso contraria a ideia mais aceita sobre o papel do hormônio nessa fase.

A equipe afirma que a prolactina é importante para o comportamento sexual masculino, mas que é preciso fazer mais estudos para entender melhor o que está por trás do período refratário após a ejaculação. Quando isso acontecer, quem sabe será possível ajudar os homens a ter mais relações numa só noite.