Estudo sugere que, apesar do declínio da memória, idosos armazenam muitas informações em seus cérebros
Redação Publicado em 15/02/2022, às 15h30
Um novo estudo publicado na revista Trends in Cognitive Sciences sugere que os idosos armazenam muitas informações em seus cérebros, levando a memórias “desordenadas”. Assim, eles apresentam mais dificuldade em lembrar de informações específicas e detalhadas quando comparados a adultos mais jovens.
Segundo os pesquisadores, a descoberta pode ajudar a explicar por que a sabedoria e o conhecimento continuam a crescer à medida que envelhecemos mesmo com o declínio da memória.
Para funcionar em nosso dia-a-dia, precisamos constantemente suprimir – ou inibir – informações que não sejam relevantes para qualquer tarefa que estejamos fazendo. Por exemplo, ao dirigir, precisamos ser capazes de focar na estrada e não na música no rádio.
Sabendo disso, a pesquisa mostrou que essa inibição se torna menos eficiente na idade adulta, resultando em uma "inundação" de informações para pessoas da terceira idade - e um consequente prejuízo na memória.
Os autores do estudo explicam ainda que, quando os idosos tentam lembrar de um detalhe em particular, eles experimentam mais dificuldade porque esse detalhe se conectou a todos os outros tipos de detalhes em sua mente, sendo necessário filtrá-los para lembrar de determinada informação.
Por exemplo, uma pessoa conhece cinco indivíduos chamados “João” e está tentando lembrar o sobrenome de um “João” específico. Ela achará essa tarefa muito mais difícil do que se só conhecesse uma única pessoa com esse nome. O mesmo ocorre quando os idosos tentam lembrar de detalhes específicos.
Confira:
Para chegar a essa conclusão, a equipe analisou mais de 20 anos de pesquisas e trabalhos relacionados que examinaram a memória de idosos, incluindo estudos comportamentais e de neuroimagem.
Em alguns estudos comportamentais, idosos e adultos mais jovens foram apresentados a quadros com palavras em cima deles, que estavam ali para serem distrações. Primeiro, todos foram orientados a ignorar as palavras e indicar se a próxima imagem que viria era a mesma da anterior.
Mais tarde, os participantes foram testados em relação às palavras que foram ignoradas. Por exemplo, se o termo "hidrogênio" tivesse aparecido anteriormente em cima de uma imagem, eles poderiam mais tarde ser perguntados: "Qual é o elemento mais abundante no sol?".
Os idosos tiveram melhor desempenho quando a resposta à pergunta foi uma palavra em cima de uma imagem na primeira tarefa. Ou seja, eles usaram a distração para ajudá-los a resolver o problema. Para os adultos mais jovens, não houve tal efeito, era como se a distração nunca estivesse lá.
Vários estudos ao longo dos anos relataram resultados semelhantes. Adultos mais jovens parecem inibir informações irrelevantes e distrações enquanto os idosos aparentam armazená-las.
Os achados de neuroimagem seguem pelo mesmo caminho. Em um estudo revisado neste artigo, adultos mais velhos e jovens observaram imagens de duas categorias diferentes (por exemplo, rostos e paisagens) e, após o desaparecimento das fotos, foram orientados a lembrar apenas uma das categorias.
A atividade cerebral revelou que, ao contrário dos adultos mais jovens, os idosos lembravam categorias de imagem relevantes e irrelevantes, sugerindo que estavam se lembrando dessas imagens quando deveriam ignorá-las, apoiando a ideia de que eles processam e armazenam muitas informações.
Embora ter memórias mais desordenadas leve os idosos a terem mais dificuldade em lembrar detalhes específicos, esse fenômeno também tem alguns benefícios.
Além de ter mais conhecimento e sabedoria, os idosos também podem utilizar melhor seus conhecimentos e distrações prévias em seu ambiente para fins de tomada de decisão e em tarefas criativas.
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