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Por que evitamos conversas profundas com estranhos? Pesquisa dá pistas

Segundo o estudo, as pessoas tendem a acreditar que o outro não está interessado em aprender algo sobre elas - iStock
Segundo o estudo, as pessoas tendem a acreditar que o outro não está interessado em aprender algo sobre elas - iStock

Redação Publicado em 30/09/2021, às 18h30

Um novo artigo publicado pela American Psychological Association revelou que, apesar de nos beneficiarmos de conversas profundas com estranhos, muitas vezes, nos apegamos a conversas superficiais porque subestimamos o quanto os outros estão interessados em nossas vidas.

De acordo com os pesquisadores, conectar-se com os outros de maneira significativa – através da comunicação – tende a tornar os indivíduos mais felizes e a aumentar o bem-estar.

Antes e depois

A equipe criou uma série de 12 experimentos com mais de 1.800 participantes. Todos foram divididos em duplas – a maioria “desconhecidos” – para discutirem temas considerados profundos ou rasos.

Entre os assuntos superficiais estavam: “Qual é o melhor programa de TV que você viu no último mês? Conte ao seu parceiro sobre isso" ou "O que você acha sobre o tempo hoje?" .

Enquanto as perguntas mais profundas incluíam informações pessoais e íntimas, como: "Você pode descrever uma situação em que você chorou na frente de outra pessoa?" ou "Se uma bola de cristal fosse capaz de dizer a verdade sobre si mesmo, sua vida, seu futuro, ou qualquer outra coisa, o que você gostaria de saber?''.

Houve ainda outros experimentos em que as pessoas geraram seus próprios tópicos de conversa profunda e superficial. 

Antes das conversas, os participantes eram perguntados sobre o quão estranho eles achavam que as conversas seriam, o quão conectados se sentiriam com o outro e o quanto iriam acreditar que gostariam da conversa. Logo após o bate-papo, avaliaram novamente a estranheza, a conexão e o quanto de prazer realmente experimentaram. 

A preferência é pelas conversas profundas

Os pesquisadores descobriram que tanto nas conversas consideradas profundas quanto nas mais superficiais as pessoas se sentiram menos estranhas, tiveram maiores sentimentos de conectividade e prazer do que esperavam inicialmente. Mas esse efeito tendia a ser ainda mais forte no primeiro caso. 

Os resultados mostraram que aqueles que discutiram questões mais profundas superestimaram o quão estranha a conversa seria muito mais do que aqueles que experienciaram um bate-papo superficial. Além disso, conversas profundas também eram mais agradáveis e levavam a um sentimento mais forte de conexão. 

Inclusive, em um dos experimentos, os participantes que tiveram uma conversa profunda com um parceiro e uma superficial com outro, inicialmente esperavam preferir a conversa rasa, mas, na verdade, escolheram a conversa profunda depois de experienciar ambas as situações.

Confira:

Se são melhores, por que evitamos?

Se as conversas aprofundadas são genuinamente melhores – como mostraram os achados da pesquisa – por que as pessoas não estão tendo mais delas? Os pesquisadores apresentaram uma hipótese: subestimamos o quão interessados estranhos estão em aprender sobre nossos pensamentos esentimentos mais profundos.

Em um dos experimentos, por exemplo, a equipe pediu aos participantes que indicassem o quão interessado achavam que o parceiro estaria no momento da discussão e, após a conversa, todos disseram qual foi o real nível de interesse.Em média, as pessoas subestimavam a curiosidade e a disposição de seus parceiros em aprender algo sobre elas.

Segundo os pesquisadores, os indivíduos pareciam imaginar que, ao revelar algo significativo ou importante sobre si mesmos, eles seriam recebidos com desinteresse, e só descobriram que isso não era verdade na hora da conversa. 

Os seres humanos são profundamente sociais e tendem a retribuir em um bate-papo. Ao  compartilhar algo significativo e importante com o outro, é provável que o indivíduo também obtenha algo significativo e importante em troca, levando a uma conversa consideravelmente melhor.

A personalidade do outro também importa

Nos experimentos finais, a equipe examinou se ter expectativas mais precisas sobre com quem iria conversar aumentava ou não o interesse em ter uma conversa mais profunda. Em uma das situações, por exemplo, os participantes foram orientados a imaginar que estariam falando com uma pessoa particularmente carinhosa e interessada ou então com uma despreocupada e desinteressada. 

A partir daí, aqueles que esperavam conversar com a primeira opção optaram por discutir questões mais profundas em comparação com os que achavam que iriam falar com um parceiro indiferente

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