Redação Publicado em 18/01/2025, às 10h00
A tristeza é geralmente vista como uma emoção negativa, mas, no contexto estético (como, por exemplo, ao apreciarmos uma obra de arte) esse sentimento pode se tornar uma fonte de prazer, por mais contraditório que isso pareça.
Em um livro lançado recentemente, o professor e especialista em música e cognição David Huron, da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, analisa as funções biológicas e sociais de comportamentos relacionados à tristeza, como ouvir músicas que despertam essa emoção. Segundo a obra, vários fatores podem explicar por que as pessoas sentem prazer com isso.
A música expressa emoções específicas ao imitar os sons vocais produzidos pela voz humana. Quando em estado de melancolia, as pessoas falam mais devagar, suavemente, com um tom geral mais grave e um som mais sombrio. Isso é claramente perceptível no famoso Adagio para Cordas, de Samuel Barber, que numa enquete internacional da emissora BBC foi eleita a mais triste de todas as composições musicais.
A música ajuda a canalizar a frustração ou a realizar uma catarse, liberando emoções negativas como raiva e tristeza. Quando ouvimos uma música triste (ou assistimos a um filme triste), estamos desconectados de qualquer ameaça real ou perigo que a música (ou o filme) possa representar. Assistir a um filme triste não é o mesmo que visitar um abrigo para pessoas sem-teto. Sentimos pena ou simpatia sem o peso da culpa pela inação. Ou seja, a tristeza que a música evoca é segura.
A música triste pode fazer o corpo liberar o hormônio prolactina, o mesmo hormônio tranquilizante liberado quando mães amamentam seus bebês. A prolactina gera uma sensação de calma que contrabalança a dor mental. Esse hormônio ajuda a mitigar o sofrimento.
A empatia desempenha um papel significativo no prazer proporcionado pela música triste. Ela pode ser definida como a capacidade de compreender ou sentir o que outra pessoa está experienciando. Pessoas emocionalmente tocadas por artes tristes ou trágicas tendem a obter pontuações mais altas em medidas gerais de empatia. Ouvintes com alta pontuação em empatia são os mais impactados pela música triste, pois possuem uma habilidade imaginativa bem desenvolvida para reconhecer a experiência de um personagem ou pessoa fictícia.
A música triste é um poderoso gatilho para memórias nostálgicas. Revisitar de forma reflexiva essas memórias pode melhorar o humor, especialmente se essas lembranças estiverem relacionadas a momentos significativos da vida (como os tempos de escola ou de faculdade). Há prazer em relembrar os bons momentos, mas, junto a isso, quase na mesma medida, surge a tristeza por sentir falta deles.
A música triste proporciona benefícios psicológicos de regulação do humor. Ela pode ser experienciada como um amigo imaginário que oferece apoio e empatia após uma perda social. O ouvinte aprecia a presença de uma "pessoa virtual" representada pela música, que está no mesmo estado de espírito e pode ajudar a lidar com sentimentos de tristeza. Por exemplo, as três últimas sonatas para piano de Schubert dão voz e conforto àquela parte de nós que se sente sozinha. Schubert tinha 31 anos quando as compôs e faleceu dois meses depois, em setembro de 1828. Ele conhecia a experiência da solidão e tinha o dom de expressá-la em sua música.
Em resumo, a música triste permite que o ouvinte se desconecte de situações angustiantes (como um término ou uma perda) e se concentre na beleza da música. Além disso, letras que ressoam com a experiência pessoal do ouvinte podem dar voz a sentimentos ou vivências que talvez não consigamos expressar por conta própria.
Fontes: Psychology Today, The Science of Sadness: A New Understanding of Emotion