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Por que o álcool aumenta a agressividade? Pesquisa mostra uma razão

O comportamento agressivo pode ser incentivado pela capacidade do álcool de aumentar o limiar da dor - iStock
O comportamento agressivo pode ser incentivado pela capacidade do álcool de aumentar o limiar da dor - iStock

A capacidade do álcool de aumentar o limiar de dor das pessoas é uma das razões pelas quais o consumo de bebidas alcoólicas estimula a agressividade, sugere um estudo que acaba de ser publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs.

Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio e de Kentucky, nos EUA, descobriram que, quanto menos dor os participantes do estudo sentiam após consumir uma bebida alcoólica, mais dor estavam dispostos a infligir a outra pessoa.

Menos dor, menos empatia

"Todos já ouvimos o ditado 'sinto a sua dor'", disse Brad Bushman, coautor do estudo.

Mas, se pessoas embriagadas não conseguem sentir sua própria dor, é menos provável que sintam empatia pela dor dos outros, e isso pode levá-las a serem mais agressivas."

A pesquisa, que contou com financiamento público, envolveu dois experimentos laboratoriais independentes: um com 543 participantes e outro com 327 participantes. Em ambos os grupos, os participantes relatavam consumir de 3 a 4 bebidas alcoólicas por ocasião, pelo menos uma vez por mês.

Bebida alcoólica de verdade e de mentira

Os participantes tiveram 20 minutos para consumir uma bebida alcoólica ou um placebo. As bebidas com suco de laranja pareciam idênticas para que os participantes não soubessem qual delas estavam recebendo. No caso das bebidas placebo, os pesquisadores colocaram uma pequena quantidade de álcool no topo do suco de laranja e borrifaram o álcool na borda do copo para que tivesse gosto de bebida alcoólica.

Depois de consumir a bebida, cada participante recebeu choques elétricos de um segundo em dois dedos de uma mão. Os pesquisadores aumentaram a intensidade dos choques até o participante descrever o choque como "doloroso". Esse ponto foi considerado o limiar de dor do participante.

Em seguida, eles participaram de uma tarefa competitiva online de tempo de reação, na qual o vencedor podia aplicar um choque no perdedor. Os choques variavam de 1 (baixo) a 10, nível que o participante havia classificado como "doloroso". Os participantes também podiam escolher a duração dos choques.

Tolerância à dor e agressividade

Os pesquisadores declaravam aleatoriamente o participante como "vencedor" em metade das tarefas de tempo de reação. O objetivo era simplesmente verificar se aqueles que consumiram a bebida alcoólica estariam dispostos a aplicar choques mais fortes e longos – e se um limiar de dor mais alto influenciava nisso.

Os resultados mostraram que, para aqueles que consumiram álcool, a bebida aumentou o nível em que os choques se tornavam dolorosos. E quanto maior a tolerância à dor física, maior era o nível de agressividade em termos de intensidade e duração dos choques que estavam dispostos a aplicar ao "oponente".

Aqueles que beberam as bebidas placebo não foram tão agressivos em suas respostas, em parte porque o limiar de dor deles era geralmente mais baixo do que o dos que consumiram álcool, explicou Bushman. "Em outras palavras, eles ainda conseguiam sentir sua própria dor – e não queriam infligir dor aos outros", disse ele.

Concentrações de álcool

As pessoas que consumiram álcool neste estudo apresentaram concentrações de álcool no sangue entre 0,095% e 0,11%. Isso está ligeiramente acima do limite legal na maioria dos estados norte-americanos, que é de 0,08%.

"Os efeitos do álcool na tolerância à dor podem ser maiores para aqueles que consomem mais do que os participantes fizeram nesses experimentos", disse Bushman. "Isso pode torná-los ainda mais propensos a serem agressivos contra outras pessoas."

Claro que existem muitas razões pelas quais pessoas embriagadas têm maior probabilidade de machucar intencionalmente outras, mas a pesquisa sugere que a tolerância à dor pode ser uma delas. 

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin