Existem poucas coisas mais encantadoras do que gatos fofinhos. Quer estejam correndo pela sala em um ataque de miados ou ronronando em nosso colo, os gatos proporcionam entretenimento ilimitado. Mesmo quando estão derrubando copos da mesa ou sentados em nossos laptops enquanto tentamos trabalhar, ainda são muito charmosos... e não podemos deixar de amá-los.
Embora saibamos que os gatos são adoráveis (e os milhões de vídeos de felinos que proliferam nas redes sociais certamente confirmam isso!), nos perguntamos o que exatamente os torna assim? A fofura dos gatos, na verdade, desencadeia respostas em nossos cérebros que nos impactam positivamente em um nível instintivo e psicológico. Conversamos com dois psiquiatras para explicar como nossos amigos felinos peludos podem afetar nosso humor e bem-estar.
Mesmo para aquelas que não são pessoas que gostam de felinos é difícil negar o apelo de um gatinho peludo. Isso ocorre porque existem razões cientificamente comprovadas por que consideramos os gatos tão adoráveis quanto nós. Um estudo publicado na Frontiers in Psychology descobriu que os rostos dos gatos têm um efeito emocional semelhante ao dos bebês, o que faz com que o cérebro produza mais oxitocina, também conhecida como o “hormônio do amor”.
"Quando olhamos para fotos e assistimos a vídeos, sejam de gatos, cachorros ou bebês, estamos fazendo uma conexão muito profunda com nosso cérebro emocional, entrando em uma sintonia intensa e tendo manifestações que passam por sentimentos muito positivos como os de conforto, companheirismo e mesmo de atitude amorosa”, explica o psiquiatra Fábio Scaramboni Cantinelli, professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para ele, entre outras explicações, há a confirmação de que isso ocorre pela liberação de algumas substâncias do cérebro que são ligadas ao bem-estar, como serotonina, endorfina, dopamina - que é o neurotransmissor ligado ao centro de recompensa, mas principalmente da já citada oxitocina.
Liberada em nossos cérebros nas circunstâncias certas, a oxitocina tem o poder de regular nossas respostas emocionais de uma forma que nos torna mais felizes, mais confiantes e mais abertos aos outros. Graças à oxitocina, temos uma sensação de conforto e tranquilidade que afasta a ansiedade e a preocupação.
“Os animais, e isso encontramos na literatura, são seres sencienses (capazes de sentir e de vivenciar sentimentos como dor, angústia, solidão, amor, alegria, raiva etc), que têm a capacidade não só de sentir, mas de transmitir emoções. E como o amor deles costuma ser muito sincero, passam essa sensação de amizade, confiança e amorosidade extrema que sentimos”, afirma Cantinelli.
E não é só isso. Ele frisa que o contato direto com os pets também provoca um humor muito positivo, o que é saudável, gostoso de sentir, e passa por essa conexão com nosso cérebro emocional profundo e pela liberação dessas substâncias de bem-estar que estão endogenamente ligadas a esta condição.
“Essas substâncias trazem a percepção imediata, irrestrita e absoluta de amorosidade e de compaixão profundas. Uma sensação de relaxamento, de pertencimento”, conta o psiquiatra, acrescentando:
“As sensações mais positivas que o ser humano pode ter ele encontra, de maneira incondicional, e esta palavra é importante, nos animais. Este despertar de uma felicidade que não está regulada a nenhuma outra questão da complexidade da existência humana, é um estado de felicidade muito simples e absoluto”.
A psiquiatra Danielle Admoni, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo, conta que algo interessante é que as pessoas, na maioria das vezes, não estão procurando esses vídeos de gatinhos que aparecem na internet. Elas estão trabalhando, usando o celular ou o computador para outra finalidade e de repente aparece um vídeo.
“Portanto, primeiro há esta questão da pausa. A pessoa estava concentrada em uma atividade e faz esta interrupção, que é algo relaxante. Inclusive, para qualquer estudo ou atividade, cada um tem sua rotina, mas o certo é dar um tempo à atividade e pausar por outro tempo. Do contrário, a pessoa não aguenta prestar tanta atenção. E este simples fato da pausa é uma coisa bastante benéfica. E, claro, há a questão que os vídeos são fotos, os gatinhos são uma graça”, diz a profissional.
Danielle acrescenta que, além da pausa, há a identificação, e isso é uma febre, com vídeos tendo milhões de visualizações. "Gostamos muito quando vemos atividades humanas nos felinos. Por exemplo, o gato mexendo no iPad, derrubando coisas no chão". E também cita que existem estudos que demonstram que, além de fazer a pessoa pausar, esses vídeos ajudam a reduzir o estresse, a ansiedade e quadros de depressão.
“Muito provavelmente por causa da liberação da dopamina há uma ativação do sistema límbico, nosso sistema de recompensa. Assim, a pessoa faz ou vê algo e tem uma enorme liberação de prazer por meio da liberação desse neurotransmissor. Então, vai buscar sempre esse prazer, essa recompensa da maneira mais fácil. E é isso o que ocorre quando vemos o vídeo”, observa.
E o que exatamente nos gatos faz com que nosso corpo libere essas substâncias? Além da identificação com as atividades humanas, as características infantis, dizem os cientistas. Conhecidos como “libertadores sociais”, as tais características infantis do gato - uma cabeça grande com rosto redondo, testa e olhos também grandes, e nariz e boca pequenos - envolvem nossos instintos protetores e amorosos. Isso pode explicar o significado de uma expressão comum “bebê peludo”.
Portanto, considerando todas as curiosidades sobre como os gatos podem ser simultaneamente poderosos, misteriosos e fofos, não é de se estranhar que as pessoas mal podem esperar para ter um pouco de carinho, nem que seja apenas assistindo a um vídeo que as faça parar e rir um pouco.
Fontes:
Danielle H. Admoni: psiquiatra geral e da infância e adolescência, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria)
Fábio Scaramboni Cantinelli: psiquiatra pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq/HC/FMUSP), e pelo NuFor (Núcleo de Psiquiatria Forense do IPq); chefe da Psiquiatria do ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo); professor do IPq/FMUSP e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Site Woman’s World
Cármen Guaresemin
Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão. @Carmen_Gua