Redação Publicado em 24/06/2021, às 19h12
Drogas derivadas da cannabis, como maconha e haxixe, tornaram-se até quatro vezes mais potentes nos últimos 24 anos, segundo o Relatório Mundial Sobre Drogas 2021, divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). O documento também indica que o consumo dessas substâncias aumentou durante a pandemia, bem como o uso não medicinal de drogas farmacêuticas.
De acordo com o UNODC, os níveis de THC (componente da cannabis que dá “barato” e também pode causar dependência, entre outros problemas) aumentaram de 6% para mais de 11% na Europa entre 2002 e 2019. Já nos EUA, passaram de 4% para 16% entre 1995 e 2019.
Apesar dessas mudanças, a organização observa que a proporção de adolescentes que percebem a droga como prejudicial caiu até 40% nos EUA, e 25% na Europa. Para a diretora-executiva do UNODC Ghada Wali, isso mostra que é preciso educar os jovens e “fechar a lacuna entre percepção e realidade”. O uso da cannanbis está associado a riscos, especialmente para usuários regulares a longo prazo.
Pesquisas com profissionais de saúde feitas em 77 países ainda mostram que, segundo 42% deles, o uso da cannabis aumentou durante a pandemia.
O relatório aponta que cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo todo em 2020, sendo que 36 milhões sofreram com transtornos associados ao uso de drogas.
Entre 2010 e 2019, o número de pessoas que usam drogas aumentou 22%, em parte devido ao crescimento da população mundial. Com base apenas nas mudanças demográficas, as projeções atuais sugerem um aumento de 11% no número de pessoas que usam drogas globalmente até 2030.
Também segundo as estimativas, cerca de 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos já usou drogas pelo menos uma vez no ano passado, enquanto 36,3 milhões de pessoas, ou 13% do número total de pessoas que usam drogas, sofrem de transtornos associados ao uso de drogas.
Em todo o mundo, mais de 11 milhões de pessoas injetam drogas, metade das quais vivem com hepatite C. Os opioides continuam sendo os responsáveis pelo maior volume de doenças atribuídas ao uso de drogas.
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O relatório também aponta que a tecnologia tem sido essencial para aumentar o acesso das pessoas ao consumo de substâncias ilícitas. Os mercados de drogas na “dark web”, apesar de terem surgido há apenas uma década, valem ao menos 315 milhões de dólares em vendas anuais. A tendência é de crescimento, com aumento de quatro vezes entre 2011 e 2017, e entre meados de 2017 e 2020.
Apesar de uma breve interrupção no início da pandemia, os mercados de drogas retomaram as operações rapidamente, explosão que deflagrou ou até acelerou certas dinâmicas do tráfico que já existiam no mercado global de drogas.
Entre essas dinâmicas, destacam-se remessas cada vez maiores de drogas ilícitas, aumento na frequência de rotas terrestres e fluviais utilizadas para o tráfico, maior utilização de aviões privados para fins de tráfico de drogas e um incremento no uso de sistemas sem contato para a entrega de drogas aos consumidores finais.
O número de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) emergentes no mercado global, porém, caiu de 163 em 2013 para 71 em 2019. Os resultados sugerem que os sistemas de controle nacionais e internacionais conseguiram limitar a disseminação de NSP em países de alta renda.
Mas a tecnologia não tem só um lado negativo. A Covid-19 ajudou a inovar os serviços de prevenção e tratamento do uso de drogas com modelos mais flexíveis, como a telemedicina. Agora, profissionais de saúde podem oferecer aconselhamento ou consultas iniciais por telefone e prescrever substâncias controladas por meio de sistemas eletrônicos.
A UNODC afirma que o impacto da pandemia ainda não é totalmente conhecido, mas sugere que as dificuldades econômicas crescentes tornarão o cultivo de drogas ilícitas mais atraente para as comunidades rurais. O aumento da desigualdade, da pobreza e de transtornos de saúde mental também pode levar mais gente a consumir drogas.
O tema do Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas deste ano é "Partilhe Fatos Sobre Drogas. Salve Vidas". A campanha enfatiza a importância de fortalecer a base de evidências e aumentar a conscientização pública para que a comunidade internacional, governos, sociedade civil, famílias e jovens possam tomar decisões informadas, direcionar melhor os esforços para prevenir e tratar o uso de substâncias psicoativas, além de enfrentar os desafios mundiais das drogas.
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