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Preocupação com finanças afeta saúde mental do brasileiro

Pesquisa mostra que a preocupação com o dinheiro impacta a saúde mental do brasileiro - iStock
Pesquisa mostra que a preocupação com o dinheiro impacta a saúde mental do brasileiro - iStock

Mais de 8 em cada 10 brasileiros se preocuparam com sua situação financeira nas últimas semanas. Para quase metade da população, esse tema tem causado preocupação com frequência (ou seja, 3 vezes ou mais nas últimas 2 semanas).

É o que mostram os resultados do Panorama de Saúde Mental, desenvolvido pelo Instituto Cactus, voltado para promoção do tema no Brasil, em parceria com a Atlasintel, empresa de tecnologia especializada em inteligência de dados. Ambas as entidades desenvolveram, no ano passado, o Índice Contínuo de Avaliação da Saúde Mental (ICASM), que possibilita acompanhar sistematicamente a saúde mental dos brasileiros.

No segundo semestre de 2023, o índice geral da população ficou em 640, numa escala de zero a 1.000 pontos, um resultado parecido com o do primeiro semestre, que foi de 635. Foram ouvidos para a pesquisa mais de 3.200 brasileiros com 16 anos ou mais com perfis socioeconômicos variados, de diferentes regiões do país, sendo que 51% eram do sexo feminino.

Mulheres e jovens têm menos pontos

O ICASM das mulheres foi de 593 pontos, quase 100 a menos que o registrado entre os homens (691). O resultado coletado para os jovens de 16 e 24 anos de idade, que foi de 523, também chama a atenção.

Falta de dinheiro e preocupações

O monitoramento mostra que a preocupação com as finanças está associada a uma menor pontuação no ICASM. Do total dos respondentes, 63,2% eram responsáveis pelo sustento do lar, e apresentaram pontuação um pouco mais elevada, de 685. Já aqueles cujos pais são responsáveis pelo sustento do lar (13%), o índice foi de 469.

Do total dos respondentes, 22% afirmaram ter deixado de fazer alguma refeição por não ter dinheiro. Aqueles que não realizaram refeição por não ter dinheiro com mais frequência apresentaram ICASM de 402, comparado com ICASM de 691 entre aqueles que não passaram por essa situação.

Sono e dores

O monitoramento também mostra que a falta de de sono e as dores crônicas também afetam a população: 71% dos respondentes declara que dormiu menos de 6 horas em pelo menos uma noite nas últimas duas semanas e 62% que sentiu forte sonolência durante o dia. Quando perguntada sobre dor, quase a metade da amostra (48%) declara ter tido alguma dor crônica no mesmo período.

Uso da tecnologia

Uma novidade na segunda coleta de dados é sobre o uso da tecnologia. Entre os respondentes, 94% afirmaram usar as redes sociais, sendo que 37% utilizam as plataformas por mais de 3 horas ao dia e tiveram um índice de 610. Já os que usam as redes por menos de 1 hora por dia apresentaram ICASM de 672.

Ansiedade

O monitoramento procurou se aprofundar na questão da ansiedade, e os resultados mostram que cerca de 73% das pessoas se sentem incomodadas pela sua preocupação com assuntos diversos. Além disso, 68% afrmaram se sentir nervosos, ansiosos ou muito tensos e 64% disseram terem difculdade de relaxar.

Aproximadamente 57% dos respondentes afirmaram não ser capazes de controlar suas preocupações.  Cerca de 25% reportou sentir-se nervoso, ansioso ou tenso, ou com difculdade de relaxar de forma quase diária.

Busca por ajuda

A maioria dos brasileiros (ou 55,8% da amostra) diz nunca ter procurado um profssional da saúde para lidar com questões relativas a transtornos de ansiedade. A proporção é maior entre os homens – 65,4% disseram nunca terem buscado ajuda.

Ao todo, 15,3% dos respondentes relataram ter recebido um diagnóstico de transtorno de ansiedade por parte de um psiquiatra, enquanto 10,7% responderam que foram diagnosticados por um profssional de saúde geral.

Mais da metade dos respondentes (53%) declaram que têm recebido ajuda e conselhos de outras pessoas, enquanto 74% afrmam que têm concentrado os seus esforços para fazer alguma coisa em relação com a situação na qual se encontram.

Uso de álcool e medicamentos

A maioria dos respondentes (77%) relataram não ter consumido  álcool ou outras drogas/medicamentos para se sentir melhor. No entanto, 49% afrmam que tem se culpado muito pelas coisas que aconteceram nas duas semanas anteriores à pesquisa e 13% disseram ter consumido um pouco de álcool ou outras drogas/medicamentos para se sentir melhor.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin