Indivíduos que sofreram pressão para perder peso na adolescência por parte da família ou da mídia, mulheres, indivíduos que não se identificam como heterossexuais e pessoas em desvantagem socioeconômica são as que têm mais risco de sofrer com o estigma em relação ao peso “internalizado”. Esse termo é usado quando a própria pessoa passa a acreditar que é inferior por não ter um peso considerado ideal.
O estudo foi realizado por uma equipe da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e publicado no periódico The Lancet Regional Health Europe.
Na Inglaterra, cerca de uma em cada quatro pessoas sofre com obesidade, mas a condição é altamente estigmatizada, assim como acontece no Brasil, em que um em cada cinco tem obesidade.
É importante destacar que o estigma relacionado ao peso é um problema de saúde pública: pessoas afetadas por isso são mais propensas a sofrer com problemas de saúde mental, transtornos alimentares e podem demorar para buscar tratamento médico.
Os pesquisadores decidiram investigar quais os grupos com maior risco, já que havia poucos estudos de qualidade sobre esse problema. Eles utilizaram dados de um grande estudo chamado Crianças dos anos de 1990 de Bristol, que avaliou o estigma de peso internalizado em mais de 4.000 pessoas com 31 anos de idade de acordo com sexo, etnicidade, fatores socioeconômicos, orientação sexual, influência da família e de outros grupos sociais na infância e na adolescência.
O estudo descobriu que sentir a pressão exercida pela família para perder peso, ouvir comentários irônicos dos parentes sobre sua forma física e sentir a pressão exercida pela mídia para perder peso na adolescência foram todos fatores associados a níveis mais altos de estigma de peso internalizado aos 31 anos de idade. E essa ligação não foi explicada por diferenças no Índice de Massa Corporal (IMC).
Ter sofrido bullying na adolescência (aos 17 anos de idade) e no início da idade adulta (aos 23 anos) também foram ligados ao estigma internalizado aos 31 anos.
Os pesquisadores também encontraram diferenças claras no estigma de peso internalizado entre outros grupos, que também não foram explicados pelo IMC. Mulheres e indivíduos que não se identificam como heterossexuais são os que estão em maior risco de internalizar o estigma, bem como pessoas com menos tempo de educação, emprego ou treinamento ou filhos de mães com menor nível educacional.
Segundo uma das autoras, a pesquisadora Amanda Hughes, o ambiente familiar durante a adolescência, o bullying e a pressão para perder peso exercida pela mídia têm impactos duradouros no valor que as pessoas se dão conforme o seu peso.
Nós temos uma oportunidade de reduzir o estigma relacionado ao peso e suas consequências mudando a forma como discutimos peso na mídia, em espaços públicos e na família, e como respondemos ao bullying nas escolas, ambientes de trabalho e outros locais”, comentou.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin