No Dia Mundial de Combate ao Câncer, é sempre importante lembrar que existem hábitos que podem ajudar a evitar o desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), ao menos 12 tipos da doença são associados a fatores ligados ao estilo de vida, como alimentação inadequada, consumo de álcool e sedentarismo.
Embora o câncer seja uma doença que envolve os genes, apenas 10% de todos os casos da doença são herdados, e, mesmo para muitas dessas pessoas, é possível intervir precocemente para evitar tratamentos invasivos.
Conheça os principais fatores ligados ao estilo de vida envolvidos no desenvolvimento de um câncer e o que você pode fazer para evitar os riscos:
A cada 100 pessoas que têm câncer, cerca de 30 são fumantes, e a maioria inicia o hábito antes dos 20 anos de idade. O câncer de pulmão é o mais frequente, mas não o único – o fumo também é associado aos tumores de cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero e às leucemias.
Além disso, o fumo é responsável por cerca de 30% das mortes por câncer, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Lembre-se: a exposição à fumaça do cigarro também aumenta o risco. E o cigarro eletrônico (vaping) não é uma alternativa saudável às versões tradicionais.
Verduras, legumes, grãos e frutas contêm elementos que podem ajudar na prevenção de certos tipos de câncer. É o caso das fibras, do licopeno do tomate e do betacaroteno da cenoura e da manga, entre muitos outros. A recomendação é ingerir ao menos cinco porções diárias de frutas e vegetais todos os dias.
Por outro lado, carne vermelha e carne processada (como bacon, presunto e salame) devem ser consumidas com moderação, pois elevam o risco de câncer colorretal. Outros itens de risco são a aflotoxina (fungo do amendoim), que aumenta a propensão ao câncer de fígado, e compostos do arsênio, que podem contaminar a água do subsolo. Por isso, crianças e adultos só devem consumir água potável ou mineral.
O excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação crônica no organismo, além de provocar aumentos nos níveis de determinados hormônios que promovem o crescimento de células cancerígenas, aumentando as chances de desenvolvimento da doença. Alguns trabalhos indicam que o excesso de peso está associado a pelo menos 14 tipos de câncer.
A obesidade infantil é um problema sério no Brasil e no mundo, e jovens com excesso de peso têm maior probabilidade de se tornarem adultos obesos, por isso é importante agir desde cedo. Dados do Ministério da Saúde mostram que a obesidade aumentou 72% em apenas treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019.
O sedentarismo pode aumentar o risco de pelo menos 10 tipos de câncer, além de interferir em hormônios e no sistema imunológico. A recomendação é que, desde a infância, as pessoas pratiquem atividade física regular, de intensidade moderada a forte, por 150 minutos na semana.
Evitar passar muitas horas sentado também é importante, por isso faça pausas nas telas e procure se movimentar ao longo do dia, com pequenas caminhadas, uso da escada ou exercícios simples.
A ingestão exagerada, que em geral começa na adolescência, tem relação com tumores de estômago, esôfago, fígado, rim, mama, cabeça e pescoço. E mesmo doses baixas e frequentes podem aumentar o risco de câncer de mama, segundo estudos.
O HPV (papilomavírus humano) aumenta o risco de câncer de colo de útero, além de alguns tumores de boca, garganta, pênis, vulva, vagina e ânus. A hepatite B e C podem causar cirrose e alguns casos podem evoluir para câncer de fígado.
Vale lembrar que existe vacina para os principais tipos de HPV e para a hepatite B. O uso de preservativo também ajuda a prevenir essas infecções, mas pouca gente usa de forma consistente ou no sexo oral.
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) lembra, todo ano, que o câncer de pênis é um tipo de tumor que pode ser prevenido de forma simples, com água e sabão. Essa doença leva a mais de 600 amputações por ano, o que é um número muito alto se considerarmos que a higiene é uma das principais formas de evitá-la.
A doença também está relacionada à infecção pelo HPV e a casos não tratados de fimose (quando o prepúcio não pode ser completamente puxado para trás para expor a glande durante a limpeza). Números do Ministério da Saúde apontam que de 2012 a 2022 foram registrados mais de 21 mil casos de câncer de pênis no país; de 2013 a 2023, mais de 6 mil amputações; e de 2011 a 2021, mais de 4 mil mortes devido à doença.
A exposição aos raios ultravioleta aumenta o risco de um indivíduo ter câncer de pele. Esse efeito é cumulativo, ou seja, é preciso que a proteção comece na infância, com uso de filtro solar, chapéu e sombra entre 10 e 16 horas.
Quem vai ao médico com regularidade tem muito mais chances de evitar que um problema de saúde evolua para um câncer, ou mesmo para identificar a doença em estágios que permitem a cura.
A colonoscopia, por exemplo, pode ser indicada preventivamente ou diante de sintomas, e permite a remoção imediata de pólipos que podem virar câncer no futuro. Outro exemplo é a infecção pela bactéria Helycobacter pylori, associada a casos de úlcera e, também, de câncer de estômago. Consultas regulares ao dermatologista também podem identificar lesões suspeitas na pele e evitar que um câncer se prolifere.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin