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Prótese de silicone com menor rugosidade pode evitar complicações

Um terço das mulheres precisou passar por uma nova cirurgia em um prazo de cinco anos após a reconstrução mamária - iStock
Um terço das mulheres precisou passar por uma nova cirurgia em um prazo de cinco anos após a reconstrução mamária - iStock

Redação Publicado em 30/06/2021, às 18h00

Um estudo inédito conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) – em parceria com cirurgiões de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil – avaliou como a textura da superfície de próteses mamárias pode afetar o sistema imunológico do corpo humano. 

Após quatro anos investigando esse tema, os pesquisadores envolvidos na pesquisa acreditam que as descobertas ajudarão profissionais da área de cirurgia plástica a avaliarem qual a melhor opção de prótese para cada paciente com base em qual textura provoca menor resposta inflamatória e, portanto, tem maior biocompatibilidade. 

Foram analisados 10 aspectos, entre eles o aumento na produção de anticorpos, ativação de células T (componentes do sistema imunológico) e espessura da cápsula criada em torno do implante. 

Além disso, foram examinados cinco tipos diferentes de próteses mamárias – utilizadas em cirurgias estéticas e reconstrutoras da mama ao redor do mundo – cujas características variavam de acordo com a rugosidade.

Quanto menor a rugosidade, melhor

Os pesquisadores explicam que os implantes de silicone, por serem materiais sintéticos, provocam uma resposta imunológica do corpo. A grande questão está no tipo de resposta e no nível de equilíbrio com o organismo. Vale lembrar que esse é um fenômeno comum em outros procedimentos de implante, como marca-passo, válvulas cardíacas, cateteres e, até mesmo, implantes dentários. 

Dessa forma, enquanto as próteses mamárias de superfície mais ásperas provocaram uma reação inflamatória maior, aquelas com superfícies com rugosidade menor causaram uma resposta que inibia a inflamação do tecido ao redor da prótese. 

Para os autores, os achados da pesquisa – publicados no periódico Nature Biomedical Engineering – são extremamente importantes não apenas para os cirurgiões plásticos que realizam procedimentos estéticos da mama, mas também para aqueles que fazem a reconstrução dessa parte do corpo após o tratamento do câncer. 

Ao longo das análises feitas no Programa de Pós-Graduação do Hospital Sírio-Libanês, no Brasil, foi observado que um terço das mulheres precisou passar por uma nova cirurgia em um prazo de cinco anos após a reconstrução mamária. Isso aconteceu, em grande parte, devido à complicações da hiper estimulação do sistema imunológico com fibrose, contratura capsular e, até mesmo, a ruptura do implante. 

Nesse contexto, as evidências da pesquisa mostram que utilizar próteses com menor rugosidade favorece o processo de reabilitação de mulheres que enfrentaram um câncer de mama, além de reduzir o número de cirurgias em longo prazo, tendo um impacto direto na qualidade de vida das pacientes e também nos custos de todo o processo cirúrgico. 

Confira:

Entenda a rugosidade das próteses

As próteses de silicone seguem uma classificação baseada na unidade de medida micrômetro (µm), obtida por meio de uma avaliação da superfície com um aparelho eletrônico que permite classificar o nível de rugosidade (Ra). Assim, os implantes mais bem avaliados pelo estudo têm um Ra de aproximadamente 3,2 µm.

Foi na década de 1960 que surgiram as primeiras próteses de silicone. Elas eram classificadas como lisas e com Ra de 0,27 µm, o que provocava uma série de complicações, como a contratura capsular, fadiga do material e posterior ruptura.  

Por exemplo, quando a mulher sofre uma contratura capsular, o organismo forma uma inflamação ao redor da prótese, causando aperto, desconforto, dor, deformações visíveis e mudança de posicionamento, forçando uma segunda cirurgia. 

Em mulheres submetidas à reconstrução da mama após o câncer, essas complicações podem ser mais incidentes devido às características do tratamento cirúrgico da doença e a presença da radioterapia.

Na década de 1980, a indústria começou a desenvolver implantes com superfície macrotexturizada (Ra superior a 50 µm) e microtexturizadas (Ra entre 10 e 50 µm), tendo como principal objetivo evitar o encapsulamento e maior adesão ao tecido humano. 

Entretanto, em 2019, algumas próteses altamente texturizados foram relacionadas ao desenvolvimento de um tipo raro de linfoma, provocando a retirada do produto do mercado. Na época, o Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos, sugeriu que a causa do problema seria a hiper estimulação do sistema imune (linfócitos T) por conta do maior grau de rugosidade, bem como a liberação de micropartículas de silicone em mulheres geneticamente mais vulneráveis. 

Alguns estudos demonstram ainda que próteses com maior Ra favorecem a colonização bacteriana e formação de biofilme (tipo de colonização bacteriana crônica sobre a superfície do implante), causando estímulo crônico do sistema imunológico e o desenvolvimento do linfoma.

O que é a “Doença do Silicone”?

Hoje em dia, existem diversas opções de implantes de silicone disponíveis para a avaliação e escolha em cirurgias estéticas da mama. Porém, nos últimos anos, o número de mulheres com próteses se queixando de fadiga, depressão, dores articulares, mau funcionamento do intestino e diversos outros sintomas tem chamado a atenção. A comunidade médica avalia o fenômeno como um surgimento de uma nova doença, popularmente chamada de “Doença do Silicone”. 

Segundo os pesquisadores, embora ainda esteja sob investigação, acredita-se que a condição surge devido às próteses com maior rugosidade, que podem levar à hiperativação crônica dos linfócitos T, algo semelhante a etiologia do Linfoma de Células Anaplásicas, porém, sem o desenvolvimento do câncer e sim dos sintomas reumatológicos. 

Além disso, há descrições de partículas de silicone na cápsula do implante que contribuem para o processo inflamatório crônico, afetando principalmente mulheres com predisposição a doenças reumatológicas

Com os resultados do estudo, de que o design da superfície do implante muda sua performance e como ele interage com organismo humano, ter uma maior biocompatibilidade, além de auxiliar na escolha da prótese, abre um novo caminho para que a ciência estude a “Doença do Silicone” e as formas de preveni-la ou tratá-la. 

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