Redação Publicado em 26/04/2021, às 18h00
Pelo menos 52 pessoas de um único voo – que partiu de Delhi (Índia) para Hong Kong (China) – apresentaram testes positivos para Covid-19 após a viagem, apesar de todos os passageiros terem apresentado resultados negativos para a infecção antes do embarque.
O acontecimento, noticiado pelo Wall Street Journal, ainda é um mistério para as autoridades chinesas e traz à tona a questão: será que é seguro viajar de avião em tempos de pandemia?
A cidade de Hong Kong como um todo tem registrado um número menor de casos diários da doença que o total detectado no voo, uma vez que o país foi rápido para controlar uma possível quarta onda de infecções em janeiro de 2021.
Em contrapartida, a Índia - e seus 1,3 bilhões de habitantes - encontra-se em uma situação completamente diferente. O sistema de saúde do país está entrando em colapso e a população sofre com uma segunda onda devastadora que mata, em média, 2.800 pessoas por dia.
Com a alta taxa de mortes diárias, os necrotérios indianos ficaram sem macas e corpos têm sido transportados por cobertores. E parentes de pacientes com Covid-19 tem vagado elas ruas da capital do país em busca de hospitais com leitos disponíveis.
Especialistas acreditam que existem quatro possíveis razões para um número tão alto de testes positivos no voo. Segundo eles, os passageiros podem ter sido infectados na Índia depois de realizarem o teste para Covid-19 pré-embarque, ou o sistema de saúde indiano está tão sobrecarregado que foi incapaz de detectar os casos com a precisão necessária.
Além disso, cientistas sugerem que existe a possibilidade de passageiros terem sido infectados durante o período de quarentena realizado em hotéis de Hong Kong, ou, ainda, pessoas com uma cepa particularmente severa da doença estavam no voo e podem ter transmitido o vírus facilmente ao redor do avião em um espaço tão compacto.
Em entrevista ao jornal norte-americano, uma das passageiras revelou que, mesmo tendo usado máscaras a maior parte do tempo e evitado ir ao banheiro, foi infectada. Segundo ela, havia muitas pessoas tossindo repetidamente durante a viagem, enquanto outros tiravam as máscaras para comer enquanto crianças chorando eram acompanhadas pelos pais nos corredores.
Estudos anteriores sugeriram que o risco de ser infectado pelo novo coronavírus em um avião, apesar de centenas de pessoas estarem presas em um mesmo ambiente, é particularmente baixo. Isso porque os aviões contam com sistemas avançados de ventilação e o uso da máscara também minimiza o risco de propagação, mesmo que haja alguém a bordo com o vírus.
Uma pesquisa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostrou que se um avião estivesse cheio, todos com máscaras, e uma pessoa a bordo estivesse infectada, apenas cerca de 0,003% das partículas de ar carregariam o vírus. Isso equivale a uma parte do coronavírus por 33.000 partes de ar não infectado.
Com esse resultado, seria necessário um voo de 54 horas para alguém respirar o suficiente do vírus para adoecer. O estudo constatou, ainda, que 99,99% das partículas infecciosas foram filtradas do ar do avião pelo sistema de ventilação.
As aeronaves de passageiros têm ventiladores e aberturas que substituem o ar na cabine a cada cinco minutos, bombeando-o de cima e sugando-o para fora dos poços. Este ar é, então, ventilado para fora do avião ou filtrado – um processo que removeria vírus – e bombeado de volta.
Um estudo separado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Estados Unidos) sugeriu que deixar o assento do meio vazio em fileiras de aviões poderia reduzir pela metade as chances de o vírus se espalhar. Mesmo que o risco de pegar a doença em um avião seja relativamente baixo, no entanto, ainda há riscos associados ao processo de embarque e desembarque, além de viajar pelo aeroporto.
Os resultados positivos apareceram depois das três semanas obrigatórias de quarentena exigidas pelo governo chinês para todos aqueles que chegam de outras partes do mundo. Essa é considerada a exigência de entrada mais rígida de todo o mundo.
Todos os passageiros que voam para Hong Kong devem apresentar um teste negativo 72 horas antes da partida - e todos as pessoas do voo em questão o fizeram.
Eric Feigl-Ding, epidemiologista da Federação de Cientistas Americanos, disse no Twitter que apenas oito casos do voo foram detectados antes do início da quarentena no hotel. Os demais casos foram identificados durante o período de quarentena.
De acordo com ele, se não fosse pela quarentena obrigatória nos hotéis de Hong Kong, os casos positivos teriam se espalhado pela comunidade e é por isso que os períodos de isolamento de fronteira são importantes.
Cientistas da Universidade de Hong Kong estão trabalhando para sequenciar os genomas dos passageiros que testaram positivo para tentar entender se eles foram infectados antes do embarque, enquanto estavam a bordo ou depois do pouso.
Desde então, o país baniu todos os voos vindos da Índia, Paquistão e Filipinas de 20 de abril a 3 de maio, após a detecção de uma cepa mutante chamada N501Y. Para os especialistas chineses, duas semanas é muito pouco e a proibição deve durar até que a situação dos três países melhore, caso contrário há grandes riscos de importar variantes perigosas.
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