Muitos sintomas da Covid longa são os mesmos para crianças em idade escolar e adolescentes, mas um grande estudo publicado no periódico Jama (Journal of American Medical Association) mostra que existem algumas diferenças importantes.
Um estudo recente estimou que cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentaram a Covid longa (também chamada de síndrome pós-Covid).
Os sintomas mais comuns em adolescentes (12 a 17 anos) são perda de olfato ou paladar, fadiga e dor, de acordo com o estudo. Já nas crianças (6 a 11 anos), destacam-se mais os problemas gastrointestinais, dor e questões neurocognitivas, como dificuldade de concentração e problemas de sono.
Ao todo, os pesquisadores identificaram 18 sintomas prolongados em crianças de idade escolar, sendo que os mais prevalentes foram:
Nos adolescentes, foram registrados 17 principais sintomas (mais parecidos com os de adultos), sendo os principais:
"Atualmente, a maioria das pesquisas sobre Covid longa tem se concentrado em adultos", comentou a autora principal do trabalho, Rachel Gross, da Universidade de Nova York, ao site MedPage Today.
Ao explorar diferentes agrupamentos de sintomas em uma ampla faixa etária, os pesquisadores descobriram que, embora muitos dos sintomas fossem semelhantes, também eram distinguíveis uns dos outros.
Isso nos mostra que uma abordagem única provavelmente não seria eficaz para diagnosticar crianças com Covid longa. Em vez disso, é provável que futuras ferramentas de triagem ou diagnóstico – assim como tratamentos – precisem ser adaptados para grupos etários específicos."
Em um editorial que acompanha o estudo, Suchitra Rao, da University do Colorado, observou que estudos recentes destacam a importância de se avaliar condições crônicas como a Covid longa ao longo do espectro de vida, porque houve diferenças claras nas apresentações entre crianças, adolescentes e adultos.
Ela apontou que dores de cabeça eram comuns em crianças, por exemplo, mas menos proeminentes em adolescentes e adultos. Além disso, um grupo de sintomas gastrointestinais era exclusivo das crianças em idade escolar, e as crianças com Covid longa da amostra não sofreram com perda de olfato e paladar.
Os participantes foram recrutados em mais de 60 locais de saúde e comunidades nos EUA, de março de 2022 a dezembro de 2023. Seus cuidadores preencheram uma pesquisa que avaliou 89 sintomas prolongados em nove domínios diferentes.
Os sintomas prolongados foram aqueles que duraram mais de quatro semanas; que começaram ou pioraram desde o início da pandemia e que estavam presentes no momento da conclusão da pesquisa (pelo menos 90 dias após a infecção).
Gross e sua equipe incluíram 751 crianças em idade escolar com infecção prévia por Sars-CoV-2 e 147 sem infecção prévia. A idade média era de 8,6 anos, sendo que 49% eram meninas, 60% brancos, 34% hispânicos/latinos/espanhois e 11% negros ou afro-americanos.
Eles também incluíram 3.109 adolescentes com infecção prévia e 1.360 sem infecção prévia. A idade média era de 14,8 anos, sendo 48% meninas, 73% brancos, 21% hispânicos/latinos/espanhois e 13% negros ou afro-americanos.
Gross disse que este estudo foi "um primeiro passo em direção a uma ferramenta futura para identificar Covid longa em crianças e adolescentes e que deverá mudar à medida que os pesquisadores aprendem mais." Ela também destacou que são necessários mais estudos também sobre a Covid longa em crianças de até 5 anos.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin