Embora algumas cirurgias estejam "na moda", muitas influencers têm chamado atenção para as consequências
Giulia Poltronieri Publicado em 27/04/2021, às 09h30
Recentemente, a influencer Jéssica Frozza divulgou em suas redes sociais o arrependimento após ter feito a cirurgia de bichectomia. O procedimento consiste na retirada parcial da bola de Bichat, diminuindo o tamanho da bochecha.
No TikTok, ela falou sobre sua experiência: "No primeiro ano, você acha massa. Só que depois do primeiro ano, juro por Deus, meu rosto ganhou uma flacidez gigantesca. Caiu a minha cara, conheço minha cara. Hoje tenho que ficar fazendo procedimento para estimular o colágeno na bola de Bichat. Fiquei caveirística. Por que ninguém me avisou?".
Ela também não culpa o profissional que realizou a bichectomia: "Estou falando sobre aceitação. Eu fiz. Ninguém me obrigou. As pessoas que fizeram meu procedimento são maravilhosas. Elas não são péssimas profissionais por conta disso. Eu fiz, eu disse sim".
E Jéssica Frozza não é a única influencer com experiências ruins derivadas de procedimentos estéticos. No final de 2020, Sthefane Matos também relatou as complicações que apareceram após fazer uma rinoplastia. “Eu tinha um nariz saudável, perfeito. Eu fiz uma rinoplastia para poder me encaixar em um padrão de beleza que não existe. O nariz não ficou bom, ficou muito curto, sem ponta, torto. Um lado era menor que outro, deformado", havia dito ela na época.
Sthefane conta que um dia acordou e seu nariz estava aberto, a cartilagem completamente exposta. A influencer teve que enxertar pele do lábio e da orelha no nariz para tentar solucionar o problema e, mesmo assim, ainda ficou com cores e texturas diferentes no rosto.
É inegável que as redes sociais e a mídia, de modo geral, aumentam a pressão para ter um corpo dentro dos padrões, mas até onde as pessoas estão dispostas a irem para alcançar esse objetivo? Alan Landecker, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), explica que antes de passar por qualquer cirurgia plástica, existem alguns pontos importantes que devem ser observados. O primeiro deles é a motivação.
“A pessoa precisa ter um incômodo muito significativo em relação àquela área que deseja operar. Se o incômodo for pouco, na maioria das vezes é melhor nem operar”, diz ele.
Alan também destaca a importância de ter expectativas realistas e procurar um bom especialista para fazer a cirurgia. “Além disso, é essencial se certificar de que existem recursos para arcar com o tratamento e tempo suficiente para fazer a recuperação, como férias ou um período mais tranquilo para que o repouso possa ser cumprido”.
Alan explica que a imensa maioria das cirurgias plásticas são irreversíveis porque geram uma mudança de anatomia no local. “Isso altera permanentemente os tecidos da pele, então é impossível voltar exatamente a como era a região antes do procedimento”, diz ele.
Embora as pessoas procurem os procedimentos para se encaixarem em um padrão e verem uma melhora na autoestima, é preciso ter cuidado. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), por exemplo, houve um aumento de 141% nos procedimentos em jovens de 13 a 18 anos nos últimos 10 anos. Em 2016, 1.472.435 cirurgias plásticas estéticas ou reparadoras foram realizadas, sendo 6,6% em adolescentes, ou seja, um total de 97 mil cirurgias.
Esse é um número muito elevado e as pessoas precisam ter em mente que nem sempre conseguirão alcançar o resultado idealizado.
Alan ainda alerta que, em termos de cirurgia “da moda”, é preciso tomar muito cuidado porque nem sempre técnicas novas são melhores do que técnicas tradicionais, usadas há muitos anos. “O que é condenável é fazer qualquer cirurgia plástica que gere uma anormalidade e uma bizarrice estética. Eu sou contra qualquer cirurgia que cause desvios da normalidade e que tenha o potencial de causar complicações irreversíveis”, justifica ele. “A lipo HD, por exemplo, pode causar irregularidades, assimetrias, lesões de pele e acúmulo de líquido; a bichectomia pode gerar depressões na região conforme a pessoa vai envelhecendo; a rinoplastia pode trazer problemas funcionais e estéticos. A gente percebe que todas as cirurgias plásticas têm potencial de complicações, elas só são recomendadas quando são realizadas por um especialista e que seja feita com correção técnica para que haja um resultado natural”.
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