Quando e por que contamos os segredos de outras pessoas?

Pesquisa sugere que contar um segredo de alguém tem relação com a moral e com a punição

Redação Publicado em 03/02/2022, às 15h00

Se a informação foi apresentada como não sendo um segredo, as pessoas divulgam pelo desejo de fofocar - iStock

Segredos. Confidenciar a outras pessoas informações sigilosas é considerado um fenômeno social entre os humanos. Alguns diriam até que isso faz parte do nosso tecido social: falar sobre os outros, “fofocar” e contar os segredos.

Mas quando e, o mais importante, por que alguém divulgaria o segredo de outra pessoa? Na tentativa de responder a essa pergunta, pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona (Estados Unidos) realizaram um estudo e descobriram que a revelação de um segredo tem correlação direta com a moral de um indivíduo.

Em outras palavras, parece que quando alguém descobre o segredo de outra pessoa e este “quebra” o código moral dela, o indivíduo que sabe da informação tende a estar mais disposto a divulgar esse segredo como forma de “punição”.

Segundo os pesquisadores, manter as coisas sobre nós mesmos em segredo é um fardo e tem um impacto negativo em nossos relacionamentos e em nossa saúde. Por isso, confiar nos outros é importante, mas acabamos assumindo que essas pessoas têm motivações semelhantes para manter as informações em segredo como fazemos para nos proteger, evitando que sejamos punidos por esse comportamento secreto. 

Entretanto, o que o estudo mostra é exatamente o contrário. Não é apenas sobre o fato de algumas pessoas não guardarem o segredo, mas sobre elas poderem estar inclinadas a revelá-los para ver o outro “punido” quando pensam que o comportamento secreto é imoral.

A pesquisa, que se baseia em uma série de nove estudos que pergunta aos participantes com que frequência eles decidem que é apropriado revelar os segredos de outra pessoa e quais as motivações por trás dessa decisão, foi publicada no Journal of Personality and Social Psychology.

Segredos "imorais"

Os dados revelaram que há uma tendência consistente na frequência com que os segredos foram divulgados e algumas motivações para essa atitude. 

De acordo com a equipe, entre uma ampla variedade de segredos comumente mantidos – desde ser infeliz no trabalho até infidelidade sexual –, as pessoas revelaram as informações de outras, em média, 30% do tempo.

Quando foi especificado sobre segredos que foram confiados diretamente aos participantes por alguém próximo a eles, os pesquisadores esperavam observar uma grande queda, mas não foi isso que aconteceu. As pessoas revelaram 26% dos segredos de outros indivíduos que haviam confiado neles. 

Os autores da pesquisa explicam que esse dado significa que a maioria dos segredos foram mantidos, mas uma porcentagem significativa foi revelada a, pelo menos, uma outra pessoa. 

Confira:

Quanto à razão pela qual as pessoas divulgaram os segredos dos outros, a moralidade desempenhou um papel fundamental. Em muitos estudos e situações, os indivíduos eram mais propensos a revelar as informações de outra pessoa se considerassem o segredo como um comportamento imoral.

Além disso, os resultados mostraram ainda que isso ocorre para satisfazer uma necessidade emocional (talvez inconsciente) de ver a outra pessoa com “um segredo imoral” punida pelo seu comportamento.

A influência da punição 

Segundo os pesquisadores, o papel da punição é uma chave quando o assunto é a divulgação de um segredo. Se a pessoa que foi confidenciada acha que a outra que guarda o segredo já foi punida, ela está menos motivada a contar a informação sigilosa.

No entanto, ao remover a punição, os indivíduos se mostram mais motivados a divulgar o segredo para cumprir essa necessidade de vê-los punidos. 

A pesquisa mostrou ainda que a motivação para revelar as informações como forma de “punir” o outro é limitada pelo quão secreta ela é. Ou seja, quando a informação era um segredo confidencial, as decisões das pessoas de revelá-la ou não foram impulsionadas pela punição.

Mas, quando a mesma informação foi apresentada como não sendo um segredo, as decisões das pessoas de revelá-la não foram impulsionadas por sua motivação para punir a pessoa, mas sim pelo seu desejo de fofocar sobre isso.

Assim, esse fenômeno de ser mais propenso a revelar o comportamento imoral de outra pessoa para “puni-las” é algo específico para segredos. 

Escolha bem seus confidentes

Enquanto as pessoas, geralmente, mantêm seus próprios delitos em silêncio para evitar punição e danos à sua reputação, os pesquisadores afirmam que confiar em alguém fornece um alívio ao titular do segredo.

Manter segredos leva ao isolamento social, ao estresse, a danos às relações e a problemas de saúde. Portanto, as pessoas podem revelar o segredo para os outros para evitar essas consequências negativas ou também para pedir conselhos ou receber apoio social. 

Ser capaz de confiar segredos — incluindo aqueles que são imorais — é importante para as relações e para a saúde mental dos indivíduos, razão suficiente pela qual é importante saber escolher esses confidentes com sabedoria.

Veja também:

comportamento fofoca segredos

Leia também

Veja como o tédio pode afetar seu comportamento


Como resgatar a autoestima e a autoconfiança?


Relações de confiança podem atenuar estresse pós-traumático


Ouvir fofoca sobre os outros leva ao autoconhecimento, segundo pesquisa