Redação Publicado em 16/11/2022, às 13h00
Um estudo canadense mostra que fumar apenas maconha pode causar inflamação das vias aéreas e enfisema pulmonar, doença irreversível associada principalmente ao tabaco. A descoberta contraria a ideia, muito difundida, de que a cannabis é muito mais segura do que o cigarro comum para o sistema respiratório.
O trabalho, que contou com fumantes de maconha, fumantes apenas de tabaco e não fumantes, descobriu que a inflamação das vias aéreas e o enfisema são mais comuns em pessoas que utilizam maconha do que nos demais. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (15) na revista Radiology,
Cannabis é a segunda substância mais fumada no mundo depois do tabaco e é usada tanto para fins recreativos quanto médicos. À medida que o número de usuários aumenta, há uma necessidade contínua de estudar os efeitos dela nos pulmões.
Os pesquisadores procuraram evidências de enfisema e outras alterações pulmonares usando a análise de imagem de tomografias computadorizadas do tórax. Eles descobriram que as pessoas que fumavam maconha apresentavam taxas mais altas de alterações nas vias aéreas do que as que fumavam apenas tabaco ou não eram fumantes.
A autora principal do estudo, Giselle Revah, radiologista do Hospital de Ottawa, no Canadá, e professora da Universidade de Ottawa, explicou ao Medical News Today que enfisema é uma doença dos pequenos sacos de ar nos pulmões (alvéolos). Quando as paredes desses sacos são danificadas, pequenos orifícios são criados no pulmão e, nessas áreas, a função de troca gasosa do pulmão (de oxigênio para dióxido de carbono) é prejudicada.
Os pesquisadores sugeriram que essas diferenças podem ser devidas à maneira como a maconha é fumada, já que a fumaça dela normalmente entra nos pulmões sem filtro.
Os pesquisadores usaram um estudo retrospectivo de caso-controle com achados de tomografia computadorizada (TC) de tórax para examinar os efeitos da cannabise dos cigarros comuns em resultados de saúde como enfisema, que causa tosse crônica e leva à dificuldade para respirar.
Como parte da pesquisa, 146 participantes foram categorizados nos seguintes grupos:
- fumantes de maconha: 56
- pacientes de controle não fumantes: 57
- fumantes apenas de tabaco: 33
Pesquisadores compararam imagens de tomografias computadorizadas de fumantes de maconha com fumantes pesados de tabaco e não fumantes da mesma idade e sexo. Eles descobriram que o enfisema era mais comum em fumantes de maconha do que em fumantes ou não fumantes. Do total, 93% dos fumantes de maconha tinham enfisema, contra 67% dos fumantes apenas de tabaco.
As imagens foram revisadas separadamente por dois radiologistas treinados que desconheciam a história clínica dos participantes (ou seja, as histórias de uso de maconha ou tabaco). Quaisquer achados pulmonares identificados foram classificados como enfisema ou alterações nas vias aéreas. Análises estatísticas foram realizadas e um consenso foi acordado por ambos os profissionais para garantir uma abordagem consistente para a revisão.
Os pesquisadores também descobriram que os fumantes de maconha tinham taxas mais altas de inflamação das vias aéreas. O exame de imagem mostrou mais acúmulo de muco nas vias aéreas, espessamento da parede brônquica e, às vezes, aumento irreversível das vias aéreas.
“Isso pode levar a mais sintomas congestivos e predisposição a infecções. Em última análise, precisamos de pesquisas mais robustas antes de podermos tirar conclusões abrangentes”, afirmou a médica. Ela acrescentou que os fumantes de maconha também apresentavam taxas mais altas de ginecomastia (aumento do crescimento do tecido mamário em homens), embora essa já fosse uma associação conhecida: o tecido mamário aumentado foi encontrado em 38% dos fumantes de maconha, em comparação com 11% dos fumantes apenas de tabaco e 16% dos controles.
Em geral, a percepção do público é que a maconha é relativamente segura, possivelmente até mais do que os cigarros. Mas a ligação recém-identificada entre o uso de cannabis e danos pulmonares irreversíveis pode significar que ela é potencialmente mais prejudicial do que muitos possam imaginar. Uma possível explicação, observou a médica, é que a cannabis geralmente é fumada sem filtro, enquanto os cigarros de tabaco geralmente são filtrados.
“Quando a maconha é inalada, mais partículas atingem as vias aéreas e são depositadas nelas. Estas partículas são provavelmente irritantes das vias respiratórias. A maneira como a maconha é inalada, em comparação com o tabaco, com maior retenção da respiração e maior volume de tragada, pode levar a microtraumas nos espaços aéreos, causando pequenos orifícios (enfisema)”, explicou Giselle.
Pneumologistas não envolvidos no estudo comentaram que os resultados da pesquisa apontam para a confirmação de uma tendência que eles têm observado em pacientes mais jovens que estão apresentando mais dificuldades respiratórias. Qualquer inalação de material particulado, seja fumaça de tabaco ou maconha, causa inflamação nas vias aéreas. No entanto, ambos os aditivos, incluindo sabores, conservantes e pesticidas, podem ser altamente variáveis entre a cannabis e os produtos de tabaco.
Os problemas que identificamos em nosso estudo foram nas vias aéreas (por inalação de fumaça). Isso sugere que vaporizadores, cigarros e cachimbos podem causar esses problemas. É improvável que outras formas de consumir cannabis, como alimentos ou loções, afetem as vias aéreas – mas, em última análise, ainda são necessárias mais pesquisas”, admite Giselle.
Para aqueles que usam cannabis por motivos médicos, ao procurar alternativas ou produtos farmacêuticos para alívio da dor, é importante discutir todas as opções com um médico.
Fonte: MedicalNewsToday
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