Redação Publicado em 17/05/2021, às 09h59
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), pessoas que já tiveram dengue têm um risco duas vezes maior de apresentar sintomas caso sejam infectadas pelo coronavírus.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram 1.285 pessoas do município de Mâncio Lima, no Acre, onde há cerca de sete anos já havia ocorrido um surto de dengue. Eles observaram amostras de sangue coletadas em novembro de 2019 e em novembro de 2020 e, a partir disso, o material foi submetido a testes capazes de detectar anticorpos contra os quatro sorotipos da dengue e também contra o Sars-CoV-2.
Os resultados mostraram que 37% da população avaliada já havia contraído dengue até novembro de 2019, e 35% tinham sido infectados pelo novo coronavírus até novembro de 2020. Também foram analisadas as informações clínicas (sintomas e desfecho) dos voluntários diagnosticados com a Covid-19.
Estudos anteriores haviam levantado a hipótese de que já ter sido infectado pela dengue ofereceria algum tipo de proteção contra o novo coronavírus, como noticiado aqui no site.
Na ocasião, pesquisadores analisaram dados de incidência de Covid-19 no Brasil e viram que a quantidade de casos era menor em regiões que historicamente tinham muita infecção por dengue, comentou Marcelo Ferreira, professor da Universidade de São Paulo e coordenador da atual pesquisa. “A dengue é uma doença de difícil diagnóstico clínico, pois os sintomas são comuns a várias outras infecções virais. Além disso, a maior parte dos casos é assintomática, então muitos indivíduos podem ter sido infectados sem saber. O teste sorológico é muito mais confiável nesse sentido.”
“Por meio de análises estatísticas, concluímos que a infecção prévia pelo vírus da dengue não altera o risco de um indivíduo ser contaminado pelo Sars-CoV-2. Por outro lado, ficou claro que quem teve dengue no passado apresentou mais chance de ter sintomas uma vez infectado pelo novo coronavírus”, explicou Vanessa Nicolete, pós-doutoranda no ICB-USP e primeira autora do artigo.
Os pesquisadores não sabem precisar as causas do fenômeno descrito no artigo. É possível que exista uma base biológica – os anticorpos contra o vírus da dengue estariam favorecendo de algum modo o agravamento da Covid-19 – ou seja simplesmente uma questão sociodemográfica, relacionada com a existência de populações mais vulneráveis às duas doenças por características diversas.
Logo, tudo indica que a pesquisa mais recente realizada pela USP, que levou em consideração questionários e coletas realizados com os pacientes duas vezes ao ano, tenha o resultado mais atualizado sobre o assunto. Para os pesquisadores, as conclusões apontam para a necessidade de o governo federal reforçar não apenas as medidas de prevenção contra a Covid-19, como também o combate ao Aedes aegypti.
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Texto com base na reportagem de Karina Toledo | Agência FAPESP