Redação Publicado em 02/03/2023, às 16h55
Mais da metade das mulheres pretas nos EUA com 20 anos ou mais têm doenças cardiovasculares, de acordo com a American Heart Association (Associação Norte-Americana para o estudo do Coração), e 50 mil morrem a cada ano como consequência disso. Alguns estudos associam o risco mais alto à genética, enquanto outros, a taxas mais altas de obesidade e diabetes entre mulheres pretas. Mas pesquisadores da Universidade de Boston acabam de trazer outro fator chave à tona: o racismo.
Isso mesmo. Ser vítima de racismo tem um impacto direto na saúde física e mental. Sem contar que interfere em emprego, salário e estilo de vida, o que também acaba afetando a saúde, em especial a cardiovascular.
Os pesquisadores acompanharam mais de 48 mil mulheres pretas ao longo de 22 anos e descobriram que o risco de doença coronariana foi 26% maior entre aquelas que relataram episódios de racismo interpessoal no emprego, moradia e nas interações com a polícia, em comparação com as que não vivenciaram esses tipos de discriminação.
Os dados coletados fazem parte de uma pesquisa mais ampla da Universidade de Boston sobre a saúde de mulheres pretas, que envolve mais de 25 anos de trabalho e 59 mil participantes de diversas partes dos EUA. Segundo os pesquisadores, esta é a primeira evidência longitudinal de que o racismo percebido está associado ao aumento do risco de doença coronariana.
O racismo tem um impacto real na saúde do coração das mulheres negras”,
ressaltou Shanshan Sheeny, que é professora assistente da faculdade de medicina da universidade. Ela apresentou os dados do estudo esta semana em um evento científico da American Heart Association.
Essa pesquisa começou em 1997, quando as participantes – então com idade média de 40,5 anos – responderam a uma série de perguntas sobre suas experiências de racismo.
O primeiro conjunto de perguntas era sobre a discriminação percebida e tratamento injusto em situações como busca de emprego, interações no trabalho, ao tentar alugar ou comprar uma casa, ou durante uma intervenção policial. Outra parte das questões analisava experiências de racismo interpessoal na vida cotidiana, como ao serem atendidas em lojas ou restaurantes.
Os pesquisadores acompanharam o bem-estar das mulheres com questionários de saúde enviados por correio e online a cada dois anos. Todas iniciaram o estudo com corações aparentemente saudáveis. Em 2019, 1.947 desenvolveram doença coronariana.
Embora a equipe de pesquisa tenha descoberto uma associação entre risco maior de doença cardíaca e experiências autorrelatadas de racismo no emprego, moradia e interações com a polícia, essa conexão não foi observada para os episódios de racismo na vida cotidiana – como em lojas ou restaurantes.
Sheehy acredita que, embora os diferentes tipos de racismo sejam prejudiciais, suas consequências variam. Alguém que é discriminado em uma loja, por exemplo, pode recorrer a mecanismos de enfrentamento, como desabafar com uma amiga. Já perder um emprego, uma promoção ou um financiamento para moradia é algo muito mais difícil de ser superado.
A pesquisadora acrescentou que o racismo é um estressor psicossocial: “Aumenta a pressão sanguínea, o nível de inflamação, e todos esses mecanismos biológicos aumentam o risco de doença cardíaca coronária.”
Em estudos anteriores, os pesquisadores também mostraram uma conexão entre experiências percebidas de racismo e obesidade, redução da função cognitiva, insônia, parto prematuro e muitas outras complicações.
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