Redação Publicado em 14/06/2022, às 13h00
O número de jovens que se identificam como transgênero quase dobrou nos últimos anos nos EUA, de acordo com uma análise, feita com base em pesquisas de saúde do governo realizadas entre 2017 e 2020.
O estudo indica que 1,4% dos jovens de 13 a 17 anos e 1,3% dos que têm entre 18 e 24 anos se identificam como transgênero, em comparação com cerca de 0,5% de todos os adultos.
De acordo com especialistas ouvidos pelo The New York Times, jovens têm contado com cada vez mais informação e aceitação social para explorar suas identidades de gênero. Já os adultos mais velhos ainda podem se sentir mais constrangidos.
Os números variam muito de estado para estado, algo que traz à tona questões políticas locais, bem como o papel da influência dos pares. Vale destacar que as pesquisas não questionaram os adolescentes mais jovens sobre identidades de gênero não-binárias.
Embora o número total de transgêneros estimado seja proporcionalmente pequeno – cerca de 1,6 milhão de pessoas com 13 anos ou mais, ou cerca de 0,6% da população – a identificação trans nos últimos anos se tornou um assunto muito presente na política norte-americana. Muitos menores de idade têm buscado tratamentos médicos, como uso de hormônios ou cirurgias, e legisladores conservadores tentam proibir isso.
Os novos dados do CDC foram analisados por pesquisadores do Williams Institute, um centro de pesquisas da faculdade de direito da Universidade da Califórnia que produz relatórios altamente conceituados sobre demografia, comportamentos e preocupações políticas das populações LGBTQIA+.
O estudo descobriu que pessoas de 13 a 25 anos representam uma parcela desproporcionalmente grande da população transgênero. Enquanto os adolescentes mais jovens são apenas 7,6% da população total dos EUA, eles representam cerca de 18% das pessoas transgênero. Da mesma forma, os jovens de 18 a 24 anos representam 11% da população total, mas 24% da população transgênero.
Os adultos mais velhos tinham uma participação desproporcionalmente pequena: enquanto 20% dos americanos têm mais de 65 anos, essa faixa etária representa apenas 10% do número total transexuais em todo o país.
O Williams Institute usou dados de duas fontes nacionais: o Behavioral Risk Factor Surveillance System, do CDC, administrado a adultos em todo o país, e o Youth Risk Behavior Survey, aplicado em escolas de ensino médio. As pesquisas, que foram realizadas por telefone ou pessoalmente, coletam dados demográficos, bem como uma variedade de informações médicas e comportamentais, como hábitos de tabagismo, HIV, nutrição e exercício.
A partir de 2017, a pesquisa do ensino médio incluiu uma pergunta opcional perguntando se o aluno era transgênero. De 2017 a 2020, 15 estados incluíram essa pergunta em suas pesquisas do ensino médio, enquanto 41 estados incluíram a pergunta para adultos pelo menos uma vez nesse período.
O Williams Institute usou esses dados, junto com variáveis demográficas e geográficas, para chegar às suas estimativas da população transgênero em todo o país.
O Censo norte-americano começou a fazer perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero apenas no ano passado, como parte de um novo esforço de coleta de dados. E mesmo as estatísticas nacionais de suicídio – importantes no estudo dessa população vulnerável – não incluem informações sobre sexualidade ou identidade de gênero.
O The Trevor Project, um grupo de prevenção ao suicídio entre jovens LGBTQIA+, divulgou uma pesquisa própria, recentemente, que alerta para o alto índice de transtornos de saúde mental e pensamentos suicidas entre essa população. O grupo tem lutado para que esse tipo de informação seja incluído em pesquisas nacionais.
Não está claro se esse salto reflete imprecisões na estimativa anterior, um verdadeiro aumento no número de adolescentes transgênero, ou ambos. Mas os especialistas acreditam que as mídias sociais têm um papel nessa mudança, já que funcionam como catalisador para adolescentes que questionam suas identidades de gênero.
Também por isso, pode ser muito mais difícil para as pessoas mais velhas explorarem suas identidades de gênero mais tarde, no meio de tantos jovens que fazem isso. Outra possível razão para a menor proporção de pessoas transgênero mais velhas é o menor acesso dessa população aos serviços de saúde. Altas taxas de HIV, violência e suicídio são fatores que fazem muitos transgênero apresentarem risco mais alto de morte precoce.
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