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Rock in Rio: por que usar fralda geriátrica em show não é boa ideia

Usar fralda geriátrica por muito tempo ou segurar o xixi num show podem trazer problemas - iStock
Usar fralda geriátrica por muito tempo ou segurar o xixi num show podem trazer problemas - iStock

Os fãs são capazes de realizar os mais diversos sacrifícios para ficarem perto de seus ídolos. Economizar para pagar o ingresso do show, ficar dias na fila, enfrentar sol e chuva são alguns desafios frequentemente vistos quando artistas, principalmente internacionais, anunciam apresentações no Brasil. Neste fim de semana, foi a vez de Justin Bieber, que se apresentou no Rock in Rio, ser o motivo desses esforços, mas um “acessório” chamou atenção: o uso de fraldas descartáveis por alguns fãs.

Depois de enfrentar horas na fila e correr muito logo que os portões da Cidade do Rock abriram para garantir um lugar à beira do palco, algumas pessoas optaram por usar fraldas para não perder a posição privilegiada no festival quando desse vontade de ir ao banheiro. Desta forma, elas poderiam fazer suas necessidades ali mesmo, sem que ninguém percebesse e sem ter que sair do lugar. Considerando que os portões do Rock in Rio abrem às 14 horas e o show de Justin Bieber começou por volta das 23 horas, foram pelo menos nove horas com a mesma fralda - isto sem contar que muitos fãs chegaram cedo para enfrentar a fila do evento já usando as fraldas, o que aumenta ainda mais o tempo com o “acessório”.

Segurar o xixi pode causar infecção urinária?

Depois que o fato virou meme na internet, procuramos especialistas para saber se há algum problema em ficar horas com a mesma fralda cheia de urina (na melhor das hipóteses). O médico urologista Camilo Milanez explica que mesmo a urina sendo estéril, o contato com a fralda molhada por muito tempo pode favorecer o surgimento de infecções urinárias, uma vez que a região perineal é colonizada por muitas bactérias. “Com a permanência das fraldas por longos períodos, sem a troca delas e sem a higiene adequada, a pele fica úmida e quente, favorecendo a proliferação desses e de outros microrganismos, que podem alcançar o trato urinário e causar uma infecção”.

O especialista destaca que a ocorrência de infecções urinárias em mulheres é mais frequente porque a uretra feminina é mais curta que a masculina, de modo que os agentes patogênicos podem colonizar a região e promover a doença. A principal causa de infecções do trato urinário é a bactéria E. coli, encontrada no intestino humano e eliminada nas fezes. Como falamos aqui, as infecções do trato urinário podem acometer diversos órgãos, como a própria uretra (uretrite), bexiga (cistite) e rins (pielonefrite).

E se em vez de usar fralda, o fã deixar de urinar por muitas horas para não perder o lugar no show, há algum problema? Milanez explica que se isso acontecer uma vez, como no caso de um show, não há repercussões clínicas importantes, mas se ocorrer com frequência, pode haver disfunção miccional no futuro. “Nossa capacidade de urinar é de 300 a 500 mililitros, variando de pessoa para pessoa. Quando a bexiga chega a esse volume, ela envia sinalização para o cérebro, que responde com o estímulo da vontade de urinar. Se a pessoa segurar esse estímulo de alguma forma com muita frequência, a longo prazo pode predispor a urgência ou a incontinência urinária”, alerta o urologista.

Além disso, o urologista também destaca que a urina pode causar inflamações na pele, chamadas de dermatites. E não precisa ser apenas a urina: a umidade e a maceração da pele (causada pela umidade), a elevação da temperatura causada pela própria fralda e a fricção da pele também favorecem o surgimento de dermatites. Se o processo inflamatório acontece por tempo prolongado, pode causar fissuras e úlceras na pele, servindo de porta de entrada para microrganismos e causando infecções na região.

O uso adequado das fraldas descartáveis

A fralda descartável geriátrica é indicada para pessoas que, por quaisquer causas, apresentam incontinência urinária ou fecal. A indicação do tipo de fralda depende do grau da incontinência. Assim, quem tem incontinência urinária leve, com poucos episódios de escape ou pouco volume, pode usar absorventes urinários, que são menores que as fraldas. Já quem tem incontinência urinária moderada pode usar fraldas com modelagem de roupa íntima descartável. Em casos de pessoas acamadas ou com incontinência grave, opta-se pelos modelos tradicionais de fraldas geriátricas, tanto pela facilidade para serem colocadas, como também pela capacidade de absorção.

Segundo a cartilha de “Cuidados no uso de fraldas em pessoas idosas”, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio Grande do Sul, alguns itens devem ser observados na hora de escolher a fralda adequada. Primeiramente, é importante medir a cintura e levar em consideração o peso de quem irá utilizá-la. Em geral, é possível encontrar na embalagem do produto a indicação de tamanho conforme essas informações. Além disso, é importante que as fraldas tenham as seguintes características:

  • Hipoalergênicas: evita alergias e lesões quando em contato com a pele
  • Formato anatômico: mais discretas e evitam vazamentos
  • Neutralizador de odores: evitam constrangimentos
  • Fitas de fixação resistentes: garantem mais segurança durante o uso
  • Boa capacidade de absorção: quanto mais absortiva, mais seca a pele fica e menos chance de vazar conteúdo

Deve-se verificar se as fraldas estão sujas a cada duas ou três horas. Se estiverem com fezes, devem ser trocadas imediatamente. Além disso, na hora da troca, é importante higienizar adequadamente a região genital adequadamente para evitar as mencionadas infecções. Antes de colocar a fralda, é importante que a pele esteja seca e também é pode-se aplicar hidratantes, pomadas ou cremes à base de vaselina (petrolato), óxido de zinco ou outros, conforme a indicação do produto e da equipe de saúde que assiste quem for utilizá-la. Esses produtos evitam as dermatites associadas à incontinência e a dermatites causadas pelas próprias fraldas.

*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

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Leo Fávaro

Leo Fávaro

Ex-advogado, jornalista e, atualmente, acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Escreveu por bastante tempo sobre música, cultura pop e moda, e atualmente se dedica a escrever sobre saúde. Está nas redes sociais como @leofavaro