Ginecologistas respondem a essas e outras questões sobre saúde íntima feminina
Cármen Guaresemin Publicado em 06/07/2022, às 12h00
Atualmente, as mulheres contam com muitos produtos para ajudar na hora da higiene íntima. São sabonetes, lenços e até desodorantes que prometem não só higienizar como manter a região com um odor agradável. Na hora da depilação, também há várias opções, como lâminas, ceras e laser. Porém, será que é mesmo necessário usar esses produtos com frequência ou retirar praticamente todo o pelo pubiano da região, como muitas fazem?
Já quando falamos em lingerie, as calcinhas sem costuras estão em alta. Elas são cortadas a laser e não marcam a roupa, porém, são feitas de material sintético, já que o algodão não consegue esse efeito. Elas ajudam bastante na hora de colocar aquele vestido mais justo, mas será que são indicadas para uso diário?
Conversamos com dois ginecologistas que tiram essas e outras dúvidas para que você possa fazer as melhores escolhas e não colocar sua saúde em risco.
Para Etiene Galvão, professora do curso de Medicina do Centro Universitário de João Pessoa, usar calcinhas sem ser de algodão não é uma boa ideia: “Sim, o uso constante desse tipo de roupa íntima (de material sintético) pode alterar a circulação do ar, deixando a região abafada e úmida demais”. Porém, isso vale se a pessoa usar só este tipo de lingerie.
“Com parcimônia, sem uso habitual, podem ser usadas em algumas ocasiões – e a pessoa não deve demorar muito para tirá-la”, acrescenta a professora.
Com ela concorda o ginecologista e obstetra pela Santa Casa de São Paulo Carlos Moraes: “Não tem problema usar roupa íntima de tecido sintético, uma vez ou outra. É preferível roupas íntimas de algodão porque elas têm capacidade de absorver eventualmente secreção e a região não fica muito quente e úmida. Calor e umidade são condições que favorecem o desenvolvimento de fungos, que provocam candidíase, o problema mais comum. Mas uma vez ou outra, não tem problema”.
Muitos profissionais da saúde criticam o uso de sabonete íntimo pelas mulheres, mas esses produtos realmente fazem mal? Aqui, as opiniões são divididas: “Sim, pois eles são capazes de modificar a microbiota vaginal, facilitando infecções, inflamações e alergias”, afirma Etiene. Moraes, no entanto, não vê problema: “Geralmente, eles são usados na região externa, então, não fazem mal. O que eu oriento é não usar na região intravaginal, porque pode ressecar a mucosa e causar desconforto”.
Etiene acrescenta que não há necessidade do uso, nem nos dias da menstruação, tampouco por transpirar demais. Porém, se a mulher optar por utilizar, ela aconselha que se escolha os sabonetes com pH ácido entre 4,0 e 6,0, sem perfume, incolor, hipoalergênico e não bactericida.
E os lencinhos umedecidos? Podem fazer parte do ritual de higienização feminina? “Não, só se deve usar lenços umedecidos, com pH ácido, quando não tiver acesso à água corrente, de preferência sem álcool na sua composição”, alerta a professora. Para Moraes, a regra do sabonete vale para os lenços: “É uma maneira de fazer a higiene, a paciente as vezes transpira e acumula secreção. Pode usar o lenço umedecido, e deixar a região secar, mas sempre lembrando que só devem ser utilizados na região externa, na vulva”.
Já os desodorantes íntimos são desaconselhados por ambos os profissionais: “Médicos não costumam indicar desodorante íntimo. A paciente pode ter algum tipo de reação alérgica. Não temos segurança absoluta que esses produtos químicos não vão criar problemas futuros”, admite o ginecologista.
Atualmente, a maioria das mulheres brasileiras depilam praticamente todo o pelo pubiano. Mas isso é saudável? Não pode trazer problemas? Etiene afirma que a depilação completa da virilha não é indicada em virtude de diminuir a barreira de proteção mecânica na área. “Principalmente dos grandes e pequenos lábios; nessa região, mantenha os pelos aparados”, ensina.
Moraes acredita que o tipo de depilação é uma opção pessoal. “Normalmente, médicos acreditam que os pelos funcionem como forma de proteção a eventuais infecções. Sem eles, as pacientes perdem a proteção natural. Mas há outra questão importante: como a mulher se depila. O uso de lâminas, por exemplo, pode causar pequenos machucados e gerar infecção, além da foliculite. Há o recurso da depilação a laser, mas nem todas pacientes conseguem se adaptar, além da questão do custo. A depilação total é uma opção pessoal, desde que bem orientada e feita com cuidados, não vejo problema”.
Outra dúvida comum que as mulheres têm é se devem ou não se lavar após manterem relações sexuais. Para Etiene a resposta é sim: “Reforçar a higiene, após a atividade sexual, é indicado para retirar as secreções que poderão causar processos irritativos. Deve-se manter a pele seca para evitar maceração e infecções fúngicas. Higienizar bastante a região uretral evita infecção urinária”.
Para Moraes, geralmente, as mulheres ficam com secreção, até de sêmen, e algumas têm vontade de urinar após a relação, mas ele não vê necessidade de elas tomarem banho ou fazer uma higiene mais cuidadosa.
Já quando falamos das duchas vaginais, ambos voltam a concordar, o aconselhável é não fazer! “Com certeza não é aconselhável, pois pode alterar o pH e a microbiota vaginal”, comenta Etiene.
“Atendo várias pacientes que ainda fazem duchas. A grande questão é que muitas não conseguem distinguir corrimento, uma eventual infecção, de uma secreção fisiológica, mais clara, sem odor, sem coceira – e que não precisa tratar. Por outro lado, se há infecção, fazer ducha não vai resolver. Ela é desnecessária, mas é um hábito arraigado na população. Eu desaconselho as pacientes a fazer isso. Acredito que uma boa orientação com o ginecologista já ajuda bastante”, finaliza Moraes.
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