Redação Publicado em 03/06/2021, às 12h00
Nesta quarta-feira (2), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) deu seu parecer sobre a mucormicose. Essa é uma doença oportunista que, em geral, não tem potencial patogênico, ou seja, pessoas sadias entram em contato com os fungos, mas não ficam doentes. Contudo, organismos debilitados já não têm a mesma sorte e ficam suscetíveis a maiores complicações. E, no cenário atual de pandemia, alguns relatos clínicos científicos mostraram que ela pode afetar pacientes de Covid-19, com problemas respiratórios e na pele.
"O conhecimento da doença e dos fatores predisponentes, como o descontrole da glicemia e da cetoacidose [indicadores de diabetes], facilitam o diagnóstico e o tratamento precoces da mucormicose. Esse é o principal aliado para salvar vidas, pois essa micose oportunista tem progressão rápida e é muitas vezes fatal, com mortalidade em 40-50% dos casos. No Brasil, outras doenças do mesmo tipo, como a aspergilose invasiva e a candidíase sistêmica, são mais comuns do que a mucormicose nos pacientes com Covid-19, sendo que também exigem atenção semelhante", disse a coordenadora do Departamento de Micoses da SBD, Rosane Orofino.
Os indivíduos mais vulneráveis à mucormicose são portadores de diabetes melito descompensado ou com cetoacidose. Além deles, também há os usuários de corticoides de forma prolongada, pacientes com alguns tipos de câncer, queimados graves, portadores de feridas abertas e transplantados de órgãos sólidos. O aumento do ferro sérico (no sangue) e a diminuição dos linfócitos (um tipo de glóbulo branco do sangue), que ocorrem na Covid-19, também são fatores que predispõem a essa micose oportunista.
"Há algum tempo a Índia vem relatando aumento dos números da mucormicose e, curiosamente, é também o segundo país em casos de diabetes melito do mundo, o que pode ser fator de predisposição ao seu surgimento. Dos 101 casos dessa micose oportunista relacionados à Covid-19 descritos recentemente, 82 deles aconteceram na Índia", lembrou Rosane Orofino.
Confira:
A apresentação clínica mais frequente da mucormicose é rino-ocular. Começa com inchaço e endurecimento da região nasal ou em volta dos olhos, dor na face e secreção nasal sanguinolenta. Essa doença pode rapidamente progredir para lesão cerebral e morte, se não houver diagnóstico e tratamento precoces. Os fungos entram nos vasos sanguíneos, causam embolia e infarto, levando à necrose tecidual. A maioria dos casos que chegam a acometer o cérebro são fatais. Pode ainda ter acometimento pulmonar ou de outros órgãos.
Quando acomete os pulmões, os sintomas da mucormicose são parecidos com os da Covid-19, ou seja, febre, tosse e falta de ar. O uso de corticoides, usados para diminuir a inflamação intensa em pacientes com o coronavírus, também pode ser um dos fatores envolvidos no aparecimento dessa micose oportunista.
O tratamento consiste na retirada cirúrgica do tecido necrosado e infectado (desbridamento), o que ajuda na melhoria da cicatrização e na diminuição de secreções. Ainda é recomendado o emprego de antifúngicos sistêmicos em ambiente hospitalar.