Cada vez mais estudos mostram que passar tempo em contato com a natureza pode ter um efeito revigorante, como apertar o botão de “reset” para voltar à rotina com menos estresse e ansiedade.
Um estudo de 2019 publicado no periódico Current Directions in Psychological Science, por exemplo, descobriu que a exposição a ambientes naturais melhora a memória, a flexibilidade cognitiva e o controle da atenção, enquanto um estudo de 2022, publicado na Cities & Health, revelou que caminhar em um parque urbano pode melhorar o humor. Existe até um nome para o tempo gasto intencionalmente em contato com ambientes naturais: “banhos de floresta”.
Enraizado na cultura japonesa, onde é chamado de shinrin-yoku, o hábito refere-se à absorção da atmosfera de uma floresta. O foco não está no exercício, mas sim na conexão com a natureza através dos sentidos.
Em vez de sair para uma corrida em uma trilha, a ideia do banho de floresta é caminhar devagar, observando o que está ao seu redor, e respirando o ar em volta. Você consegue sentir o cheiro das árvores? Ouve o barulho das folhas ao vento e o os pássaros no alto? Qual é a sensação de tocar o tronco ou um cogumelo que sai de uma árvore?
“Foi demonstrado que o banho na floresta beneficia o sistema nervoso, a frequência cardíaca e a pressão arterial, e essas coisas afetam muitos outros problemas médicos”, diz Rosanne Sheinberg, anestesista cardiotorácica da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que costuma prescrever tempo em contato com a natureza para seus pacientes. "Nossa saúde mental afeta todos os aspectos da nossa vida e do sistema imunológico."
Em 1982, o Japão lançou um programa nacional para incentivar os banhos nas florestas como forma de reduzir o “burnout” e promover a ligação com a natureza. Nos últimos anos, a popularidade da prática explodiu em todo o mundo.
O país lançou a Sociedade Japonesa de Medicina Florestal, em 2004, para estudar os benefícios para a saúde de passar tempo com as árvores. Até o momento, pesquisas realizadas no Japão e em outros lugares mostraram uma redução na ansiedade, na depressão, no estresse, na raiva e até na insônia com a prática.
De acordo com um estudo japonês de 2009, caminhar em uma floresta reduziu a pressão arterial, os níveis de cortisol, a pulsação e a atividade do sistema nervoso simpático, e aumentou a atividade do sistema nervoso parassimpático (relacionada ao relaxamento).
Um estudo de 2017 na Nature descobriu que as árvores podem afetar a própria integridade da amígdala do cérebro, estrutura que ajuda o cérebro a lidar melhor com os estressores.
Outro estudo de 2018 descobriu que passar 15 minutos caminhando em uma floresta estava associado a níveis reduzidos de ansiedade, enquanto mais um estudo de 2019 publicado na Nature descobriu que passar 120 minutos por semana imerso na natureza estava associado a melhor saúde e bem-estar.
Há menos pesquisas sobre o impacto dos banhos na floresta em crianças, especificamente, mas um pequeno estudo publicado pela Tech Science, em 2023, descobriu que crianças com problemas de saúde mental e comportamentais concomitantes experimentaram diminuição da depressão, raiva-hostilidade, fadiga e confusão após terem participado de um programa estruturado de banho de floresta.
Ainda assim, muitas pesquisas apontam para os benefícios de as crianças passarem o tempo na natureza, e médicos como Leela Magavi, psiquiatra formada pela Johns Hopkins que trabalha com pacientes pediátricos e adultos, acredita que o banho na floresta é apropriado para crianças, já que a natureza pode melhorar não apenas a sua saúde física e mental, mas também impactar positivamente o seu bem-estar geral.
“O tempo passado na natureza e longe das telas pode redefinir os ritmos circadianos das crianças e permitir-lhes dormir melhor”, diz ela.
“Passar tempo na natureza com um cuidador ou amigos pode promover a conectividade neuronal e melhorar a cognição, a produtividade e o desempenho acadêmico”, acrescenta Magavi. “As crianças podem praticar mindfulness enquanto estão na natureza, melhorando a qualidade do tempo gasto com os cuidadores e reforçando os seus laços e memórias positivas com estes indivíduos”.
Não existe um guia único para banhos de floresta, especialmente quando realizados com jovens. Sheinberg diz que não há pesquisas sobre a quantidade ideal de tempo para passar vagando entre as árvores. E, mesmo que você não tenha acesso a uma floresta, algo simples como dar uma volta no quarteirão prestando atenção nas árvores e na grama pode ser benéfico.
Os benefícios são acessíveis a quase todos, pois não requerem equipamentos caros e o objetivo não é percorrer muito terreno, mas estar presente e atento.
“É tão fácil cortar nossa conexão com a natureza que você nem percebe que perdeu”, diz Sheinberg. "Os humanos evoluíram vivendo na natureza; estamos pré-programados para relaxar nela."
Para experimentar o banho de floresta, basta começar. Aqui estão algumas dicas:
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin