Quando precisam responder rápido, é mais provável que as pessoas verbalizem algo socialmente desejável em vez de serem honestas
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 07h50 - Atualizado em 22/10/2019, às 13h45
Muita gente acredita que as pessoas tendem a ser mais sinceras quando são pegas de surpresa, porque mentir exige algum tempo para pensar. Mas um estudo sugere que isso nem sempre é verdade. Quando precisam responder rápido, ou no impulso, é mais provável que as pessoas verbalizem algo socialmente desejável em vez de serem honestas. Pelo menos de acordo com experimentos realizados por um grupo de cientistas cognitivos, aqueles que estudam capacidades mentais como foco, aprendizado e memória.
Pedir para a pessoa responder rápido e sem pensar é algo bastante comum em pesquisas na área de comportamento e até em marketing. Mas uma equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, decidiu investigar melhor essa estratégia. E a conclusão não é muito animadora para quem já se baseou nela para obter resultados ou tomar decisões.
O grupo desenvolveu um questionário com 10 perguntas tipo “sim ou não” que têm a ver com ética. Por exemplo: “fico ressentido quando as coisas não acontecem do meu jeito”. Ou “não importa com quem eu estou conversando, eu sempre presto atenção no que a pessoa fala”. Os voluntários do estudo foram em divididos em dois grupos: um tinha poucos segundos para responder, enquanto o segundo tinha mais de 11 segundos. O primeiro teve mais propensão a dar respostas socialmente desejáveis que o segundo.
No exercício seguinte, os participantes tiveram que julgar determinados comportamentos como moralmente bons ou maus, e também analisar a si próprias. Os tempos fornecidos para as respostas também variaram. A ideia da equipe era identificar um viés, ou seja, uma opinião inconsciente que é muito comum nas pessoas: elas acham que, no fundo, são pessoas de bem. É aquela história: todo mundo se acha honesto, mas é só ao recusar uma proposta de corrupção tentadora, sem pestanejar, é que alguém vai ter certeza da própria virtude.
Na expectativa dos cientistas, os participantes com menores níveis desse viés seriam menos propensas a dar respostas socialmente desejáveis sob pressão. Ou melhor: quem aceita que ninguém é bom ou mal, e sim uma mistura de virtudes e fraquezas, não teria porque mentir para parecer correto, certo? Mas isso não foi confirmado no teste. No fim, o que fez diferença foi a autoestima dos voluntários: aqueles que pontuaram bem nesse aspecto tinham como padrão dar respostas socialmente aceitáveis sempre. Já quem tinha autoestima mais baixa dava respostas socialmente aceitáveis só sob pressão.
Após a análise dos resultados, os cientistas perceberam que o padrão, quando as pessoas não têm tempo para pensar direito, é tentar agradar. Mesmo que isso coloque em dúvida a própria honestidade. Em artigo no periódico Psychological Science, da Associação para a Ciência da Psicologia, os autores recomendam que resultados de pesquisas baseadas no método “responda rápido” sejam interpretados com mais cuidado a partir disso. Da próxima vez que você quiser uma resposta sincera para uma questão delicada, talvez seja melhor conversar com calma do que tentar apressar as coisas.