Risco de suicídio é significativamente maior quando esses jovens sofrem rejeição familiar
Henrique Cardoso Cecotti* Publicado em 17/09/2021, às 13h00
Crianças não nascem sabendo o que é ser menino ou menina. Elas aprendem isso com seus pais, familiares e na escola. E esse aprendizado começa cedo. Antes mesmo do nascimento, quando a família descobre o sexo da criança, o mundo ao redor começa a ensinar lições sobre o que é ser "menino" ou "menina".
São mensagens transmitidas desde as tradicionais festas de revelação, com decoração azul e rosa, até a separação de roupas e brinquedos em "masculinos e femininos", ou mesmo dizendo a meninas que são "bonitas" e a meninos que são "fortes". Aos 2-3 anos a criança já sabe identificar o próprio gênero e entre 5-7 anos passa a ter consciência de que ele não mudará.
Esse aprendizado se consolida na adolescência e vida adulta. À medida que as expectativas sociais de expressão e comportamento masculino e feminino vão se tornando mais rígidas, assumimos o papel de homens e mulheres.
Confira:
Gênero, no entanto, não existe apenas nesses termos binários de masculino e feminino. Gênero é, na verdade, um espectro em que cada indivíduo se expressa e se identifica com diferentes graus de masculinidade e feminilidade, passando, inclusive, pela neutralidade. Pessoas transgênero se identificam dentro desse espectro, mas com gênero diferente daquele atribuído ao nascimento.
Identidade de gênero (a percepção interna) e expressão de gênero (como a pessoa se expressa em roupas, gestos, forma de falar) são determinantes de quem somos e de como nos relacionamos com o mundo. Pessoas trans que vivenciam na infância e adolescência experiências negativas relacionadas a suas identidades, em casa ou na escola, podem ter sua personalidade e relacionamentos marcados por toda a vida.
De fato, existem hoje evidências científicas que comprovam que uma atitude respeitosa e de apoio à variabilidade de gênero, por pais e outros adultos, tem um impacto positivo profundo na saúde mental e bem-estar na infância e adolescência. O contrário também é verdade: crianças e adolescentes trans que sofrem rejeição ou hostilidade familiar têm um risco maior de ansiedade, depressão e abandono do lar.
Fora de casa, essas crianças são ainda alvos frequentes de bullying, violência física, verbal e isolamento social, que afetam sobremaneira o bem-estar psicológico. Nessas situações o apoio familiar é ainda mais crítico.
Para alguns adolescentes trans, esse apoio pode ser inclusive a diferença entre a vida e a morte. Adolescentes trans que sofrem rejeição familiar têm risco de suicídio cerca de 6x maior quando comparados com adolescentes cis. Essa diferença praticamente desaparece naqueles mais bem aceitos.
*Henrique Cardoso Cecotti é endocrinologista e metabologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo
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