É desejável encontrar meios de diminuir o medo e o estresse que podem causar danos ao animal
Cármen Guaresemin Publicado em 29/12/2022, às 12h00
O costume de soltar fogos de artifício na virada do ano teve início há mais de dois mil anos, na China. Os chineses usavam o “fogo químico” na ponta de bambus para que o som espantasse os maus espíritos. Porém, de uns anos para cá, campanhas mundiais têm incentivado que sejam usados fogos silenciosos e que o espetáculo fique com as luzes, os brilhos e as cores. São vários os motivos para que essa mudança seja feita: o alto som causa estresse em pessoas que estão acamadas, naquelas com transtorno do espectro autista e também em animais de estimação, como cães e gatos, e até em pássaros que se assustam e se acidentam ao tentarem fugir.
Em 29 de julho de 2021, o então governador de São Paulo, João Doria, sancionou a Lei 17.389/2021, que proíbe queima, soltura, comercialização, armazenamento e transporte de fogos de artifício e de artefato pirotécnico de estampido no estado de São Paulo. E está em análise no Senado Federal, o projeto de lei (PL 5/2022) que prevê a proibição, em todo o território nacional, do uso e comercialização de fogos de artifício que produzem barulhos a partir da explosão de pólvora.
Sim, animais não sentem medo apenas de fogos, mas também de trovões e sirenes. Isso ocorre porque eles possuem uma audição muito mais potente que a dos humanos, e deixá-los totalmente expostos a esse barulho pode resultar em traumas irreparáveis. Agora, que estamos às vésperas do réveillon, se você tem gatos ou cães em casa que sofrem com esta situação, é desejável encontrar meios de diminuir o medo e o estresse que, em alguns casos, já levaram animais a óbito.
Além de afetar a audição dos animais, como a ruptura da membrana timpânica, é possível ocorrer ataque cardíaco, principalmente entre aqueles de idade mais avançada, por serem mais propensos a cardiopatias, problemas hepáticos e insuficiência renal, e isso pode levá-los a óbito. Caso o pet tenha algum problema de saúde, como epilepsia, o barulho pode provocar convulsões, mesmo que ele esteja sob medicação adequada. Os estampidos servem como gatilho para tremedeira, automutilação e convulsões. Os cães têm o costume de procurar o tutor em busca de proteção, enquanto os gatos se escondem em um abrigo que consideram seguro.
O pior é que fogos de artifício chegam sem aviso prévio, gerando estresse e desconforto. Além disso, os animais interpretam a situação como uma ameaça real que provoca o desejo de fuga. Cães e gatos ficam acuados e, em algumas situações, podem se tornar agressivos. Uma presença calma e reconfortante pode fazer toda a diferença. Fique perto (sem superproteger) e certifique-se de que você está relaxado, uma vez que ficar estressado ou ansioso não vai ajudar o animal.
Um modo de evitar o medo é preparar o animal por meio de treinos nos quais ele será exposto aos sons de fogos de artifício gravados. Em geral, isso vai ajudá-lo a manter a calma. Isso porque fogos acionam a resposta de luta e fuga, mas os animais não conseguem escapar da ameaça, sendo assim, medo e ansiedade continuarão – pelo menos enquanto os fogos permanecerem. Outra opção é remover o pet antes que a queima de fogos comece. Se você tem amigos ou familiares que moram em áreas mais calmas, onde a queima de fogos não ocorre, deixe-o lá. Hotéis especializados em animais de estimação também podem ser uma solução.
Se o cão ou gato sentir que os fogos de artifício são uma ameaça à segurança e não existe uma rota de fuga, ele naturalmente se sentirá vulnerável. Uma forma de manter o animal distraído é usar brinquedos que podem ser recheados com petiscos e alimentos úmidos, distraindo a atenção. Quanto antes esses recursos forem inseridos na rotina, melhores serão os resultados.
Em pet shops também é possível encontrar diversas opções de produtos, como florais homeopáticos, calmantes naturais e feromônios sintetizados que promovem o bem-estar e induzem o animal a relacionar o ambiente a uma área de proteção e conforto. O ideal é buscar orientação do médico veterinário, que conhece o perfil e saúde do pet, para indicar as melhores alternativas e doses adequadas. E não fazer uso de dicas e medicamentos sugeridos por conhecidos ou achados na internet.
Especialistas em comportamento animal podem auxiliar os tutores utilizando técnicas de dessensibilização. O trabalho consiste em recriar os estímulos que deflagram o comportamento medroso, porém com baixa intensidade, evitando o aparecimento de estresse e medo. Gradativamente o estímulo é aumentado, buscando a não resposta do animal. No entanto, essa técnica exige alguns meses de trabalho conjunto entre o profissional e o tutor.
Se você já sabe que irá ocorrer barulho por conta de alguma celebração, como a queima de fogos do réveillon, então tire algumas horas para gastar a energia do pet. Faça um longo e gostoso passeio ou brinque bastante, desta maneira ele estará menos atento aos barulhos por conta do cansaço. Aproveite para oferecer uma refeição mais caprichada à noite, como um incentivo ao sono.
Se você gosta e respeita os animais e está pensando em comprar fogos que têm som, pense em trocar o valor que usaria por uma doação a uma ONG que resgata, cuida e doa cães e gatos.
Fontes:
Cleber Santos, especialista em comportamento animal
Karina Mussolino, veterinária e gerente de clínicas da Petz
Leandro Romano, coordenador do curso de Medicina Veterinária da Anhanguera
Rafael Winsneski, adestrador da Meu Cão Companheiro
Veja também:
Pets no verão: guia de cuidados + receitas de sorvetes para eles
Férias com animais de estimação: veja guia com informações importantes
20 ótimas coisas que você pode aprender com seus animais de estimação
Adoção de pets aumentou na pandemia, mas abandono também