Ginecologista explica que o ato pode ajudar na preparação do parto e até na saúde emocional
Giulia Poltronieri Publicado em 11/05/2021, às 09h50
Sexo durante a gravidez é sempre um assunto que gera debates, afinal, pode ou não fazer? De acordo com a ginecologista e sexóloga Milena Brandão, na maioria dos casos, o ato é recomendado e pode até trazer benefícios para o parto e pós-parto.
Segundo a médica, o sexo, em condições normais, não causa parto prematuro, não prejudica o bebê e nem estimula o rompimento da bolsa amniótica. “É importante que seja dito que a penetração acontece apenas na vagina e que ela está distante da cavidade interna do útero, que é onde se desenvolve o bebê e estão localizados a placenta e o líquido amniótico”, explica Milena.
É preciso ter alguns cuidados para que o ato não traga problemas. Primeiro, o casal precisa ter saúde. É importante observar se não há infecções genitais ou urinárias. Além disso, é bom lembrar que, em situações em que a gravidez é de risco, o sexo deverá ser evitado.
“Em casos de ameaça de aborto; placenta prévia (quando a placenta não se forma no local correto e fica na parte debaixo do útero, podendo sangrar com muita facilidade); infecções graves; rotura da bolsa amniótica; ou em casos de hipertensão e parto prematuro”, exemplifica Milena.
Mas na ausência desses problemas, é possível manter relações sexuais até o final da gravidez com tranqulidade.
Existem muitas! Para começar, o sexo é um ótimo exercício físico para a musculatura perineal e mobilidade pélvica, o que favorece o preparo para o parto natural. “Toda a musculatura que envolve a entrada da vagina contrai e relaxa durante o ato sexual, e isso é ótimo para ir preparando o canal de parto, deixando-o mais frouxo e favorável à passagem do bebê”, conta Milena Brandão. “Já a mobilidade pélvica diz respeito aos movimentos do quadril, é aquele ‘rebolado’. Quanto mais frouxos estiverem os ligamentos pélvicos, melhor será para abrir os caminhos do canal de parto e favorecer o parto natural”.
Além disso, ainda há o ponto de vista hormonal. Durante o orgasmo, ocorre uma estimulação de liberação do hormônio chamado oxitocina, conhecido como “hormônio do amor”.
Ele é produzido em grande quantidade pelo corpo materno durante o trabalho de parto e após o parto, pois é responsável pelas contrações uterinas e também para manter o útero pequeno após o parto, evitando hemorragias. “Algumas pessoas podem se confundir e achar que, por terem relações sexuais, irão produzir mais desse hormônio e causar um parto antes do tempo. Só que, em condições normais, a quantidade que é liberada no ato sexual, bem como o tempo que dura uma relação, são insuficientes para influenciar na hora do parto”, comenta a ginecologista.
Outro ponto que gera dúvida em algumas pessoas é o fato de o esperma ter prostaglandinas, que são substâncias que também podem levar ao aumento de contrações. Contudo, semelhante ao que ocorre com a oxitocina, a quantidade e o tempo de exposição a essa substância não gera riscos de acelerar contrações e parto.
Essa é uma coisa muito particular e que varia de mulher para mulher. De acordo com Milena, algumas relatam que sentem mais desejo e outras sentem menos. “Os hormônios da gestação naturalmente aumentados favorecem maior fluxo de sangue para região genital, o que pode aumentar a excitação e a lubrificação. Mas cada mulher é única e traz consigo uma história de aprendizados com relação à sexualidade. Às vezes carrega medos, mitos e tabus, que funcionam como gatilho para causar desinteresse sexual em qualquer fase da vida”, diz a médica.
Dessa forma, durante a gravidez, com as mudanças físicas e emocionais que ela passa, a queda do interessse pelo sexo pode ocorrer e é importante que cada mulher se reconheça e tenha paciência consigo mesma. É uma fase e vai passar.
Porém, a ginecologista lembra que além de todas as vantagens já explicadas, o ato ainda constrói vínculo de confiança e fortalece o casal emocionalmente, melhora o humor e a autoestima, aumenta a liberação de endorfinas, diminui a ansiedade, traz bem-estar, contribuindo para o equilíbrio emocional ao longo da gravidez e ajudando tanto no parto quanto no pós parto, quando o "blue puerperal" (queda de humor que acontece nas primeiras semanas após o parto) costuma ser comum.
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