Levantamento mostra que 12 a cada 1.000 crianças nascidas vivas no Brasil têm a síndrome, dado que pode ser subestimado
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h48 - Atualizado às 23h53
Em todo o mundo, cerca de oito a cada 1.000 crianças são vítimas da Síndrome Alcoólica Fetal, um conjunto de problemas decorrentes da ingestão de bebida alcoólica durante a gravidez. A estimativa foi feita a partir de um grande estudo divulgado nesta segunda-feira (21) pelo Centro de estudos sobre Saúde Mental e Dependência (CAMH, na sigla em inglês), no Canadá, e divulgado no periódico Jama Pediatrics. A pesquisa também indica que 1 a cada 13 mulheres consomem álcool pelo menos uma vez enquanto está grávida.
O Brasil faz parte do levantamento, e aparece na lista da Organização Mundial da Saúde com uma taxa média de 12 a cada 1.000 crianças, uma estimativa de 2012. Nos Estados Unidos, são cerca de 15 a cada 1.000. Os níveis mais altos foram encontrados na Europa, que teve uma média de 20 casos por 1.000. Em países do leste do Oriente Médio foram registradas a menor taxa, de 0,1 a cada 1.000. Em 76 países, mais de 1 em 100 jovens apresentava a síndrome.
Claro que as médias variam bastante quando se considera populações específicas. Entre crianças órfãs, por exemplo, a prevalência chega a ser até 30 vezes mais alta. Nas populações com pior status socioeconômico, 23 vezes mais alta.
A síndrome pode causar consequências variadas nas crianças, como peso baixo ao nascer e alterações na face e em órgãos do corpo, bem como problemas de aprendizagem, memória, fala, audição, atenção, comportamento e relacionamento.
Nem todas as mulheres que bebem durante a gravidez terão filhos com a síndrome, mas é muito difícil saber quais os níveis seguros de consumo de álcool durante a gravidez. É por isso que, recentemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou uma campanha para recomendar que futuras mães parem de beber assim que decidam engravidar, ou pelo menos assim que se descobrem grávidas.
É importante lembrar que essa taxa brasileira pode estar bem abaixo da real, já que não é simples diagnosticar a síndrome. É difícil, inclusive, saber exatamente quanto álcool foi ingerido na gestação, uma vez que nem todas as mulheres ficam à vontade para falar sobre o assunto com médicos ou pesquisadores. O Ministério da Saúde reconhece essa dificuldade, em reportagem da Agência Brasil sobre a campanha.
Uma pesquisa realizada em uma maternidade pública de São Paulo, em 2008, com 2.000 mulheres, mostrou que mais de 70% das que haviam consumido álcool o fizeram sem saber que estavam grávidas. A incidência de desordens de desenvolvimento cerebral relacionados à substância, no caso, foi de 34 bebês a cada 1.000 nascidos vivos.